Dr. Jairo Bouer Publicado em 11/01/2021, às 09h09
Embora, atualmente, a bissexualidade esteja sendo mais bem aceita entre as pessoas, um homem com essa orientação ainda sofre mais preconceito do que a mulher. E afinal, por que será que isso ocorre?
Tal situação está muito relacionada ao machismo. Como a sociedade se estruturou em um modelo patriarcal, para muitas pessoas é mais fácil lidar com a possibilidade de uma mulher ser bissexual do que com um homem. Por isso, comentários, como por exemplo, de que "não existe homem bissexual, ou é hétero ou é gay", ainda são comuns.
No entanto, vale lembrar que existe uma gama muito grande de possibilidades de orientação sexual. Desde uma pessoa que é exclusivamente homossexual até uma exclusivamente hétero, há um longo caminho com inúmeras variações.
Para entender melhor, confira o vídeo:
Indivíduos que não se identificam como heterossexuais ainda sofrem muito preconceito e incompreensão. Mas, segundo alguns estudos, bissexuais sofrem ainda mais, já que sua orientação muitas vezes é questionada até por gays e lésbicas. Para muita gente, “bi” é aquele indivíduo que ainda não se conhece direito, ou não quer assumir sua homossexualidade.
Segundo explicam os autores de um estudo que acaba de ser publicado no PNAS, o periódico da Academia Americana de Ciências, a sociedade até aceita que algumas mulheres sintam atração por pessoas de ambos os sexos. Mas leigos e até cientistas ainda duvidam se um homem pode, mesmo, ser essencialmente bissexual.
Por isso, pesquisadores da Universidade de Northwestern, nos EUA, decidiram examinar a literatura científica sobre o tema. E eles dizem ter encontrado “evidências robustas” de que homens bissexuais existem, sim.
A equipe compilou dados de oito estudos prévios que envolviam medidas de resposta genital e a famosa escala de Kinsey, que vai de 0 a 6, sendo 0 exclusivamente heterossexual; 6, exclusivamente homossexual, e 3, bissexual. Com a filtragem, foi possível examinar a orientação sexual de 606 homens com idade média de 29 anos, que se identificaram na escala de Kinsey da seguinte forma:
178 – exclusivamente heterossexuais
102 – quase sempre heterossexuais
46 – bissexuais com inclinação heterossexual
34 – bissexuais
37 – bissexuais com inclinação homossexual
70 – quase sempre homossexuais
139 – exclusivamente homossexuais
Teoria e prática
Como a resposta genital medida, é possível descobrir se uma pessoa se excita um pouco ou muito ao ver alguém do mesmo sexo ou do sexo oposto, ainda que não assuma. Um aparelho é colocado em volta do pênis e o sujeito é convidado a assistir vídeos eróticos com estímulos femininos ou masculinos.
Os resultados confirmaram que os homens que se colocam no meio do espectro na escala de Kinsey realmente não apresentam reações muito diferentes diante de estímulos eróticos femininos ou masculinos.
No entanto, mesmo aqueles que se dizem bissexuais podem ter uma excitação um pouco maior diante de estímulos femininos ou masculinos, ainda que essa preferência seja bem menos notável que a de héteros ou homossexuais.
Também há homens que se declaram bissexuais, mas não são, de acordo com suas respostas genitais. É o caso de quem está numa fase de transição. Por ex: um garoto pode se identificar como bissexual durante a juventude, mas, ao se tornar um adulto gay, percebe que nunca chegou a ser bissexual de verdade.
Além disso, há homens que não são realmente bissexuais, mas se descrevem assim porque já tiveram experiências com pessoas do mesmo sexo ou travestis. Mas a verdade é que nem todo homem que já transou com outro homem é gay ou bissexual, da mesma forma que algumas mulheres podem ter relações com outras mulheres sem se identificar como lésbicas ou “bi”.