Jairo Bouer Publicado em 17/09/2020, às 15h49 - Atualizado em 30/09/2020, às 12h47
Oi pessoal, passando por aqui para poder conversar um pouquinho com vocês sobre transtorno de personalidade do tipo borderline.
Esse assunto ganhou as páginas de jornais e sites da internet nesses últimos dias por conta de uma reação mais extrema de uma participante de A Fazenda, a Raissa Barbosa, que, depois de ser votada par ir para a roça, teve uma reação intempestiva, brigou, jogou água, socou o travesseiro, enfim, reações bastante intensas. Em seguida, as pessoas que são responsáveis pelo perfil dela nas redes sociais publicaram que ela tem esse diagnóstico de borderline.
Veja, também, outros vídeos no meu canal no YouTube
Primeiro, é muito complicado a gente fazer um diagnóstico à distância. Eu estou me baseando no que foi dito pela equipe que trabalha nos perfis sociais dela, mas é um diagnóstico complexo.
O profissional de saúde mental (o psicólogo, ou o psiquiatra) tem que fazer algumas entrevistas para poder chegar a esse tipo de diagnóstico, que basicamente é clínico. São alterações de comportamento que fazem a gente levar a hipótese desse transtorno de personalidade.
As causas são ainda desconhecidas, provavelmente é multifatorial, mas quais são os principais sintomas? A pessoa tem uma instabilidade emocional muito grande e ela reage de forma, às vezes, impulsiva, com uma amplitude de resposta emocional muito grande para qualquer tipo de situação que coloque essa pessoa em um momento de pressão. Então ela pode explodir com mais facilidade e, muitas vezes, ela pode, nessas explosões de comportamento, fazer mal para si própria ou para as outras pessoas.
No borderline clássico, a pessoa tem dificuldades de relações sociais, com o parceiro afetivo, amoroso, com as relações profissionais, com as relações familiares, e há um risco maior de automutilação, de suicídio. Pesquisas estimam que até 10% dos pacientes com borderline têm alguma tentativa de suicídio na vida.
É mais comum o abuso de álcool e de substâncias, na tentativa de controlar essa montanha-russa emocional, então são pessoas que têm uma reação muito intensa, muito explosiva, muito impulsiva a qualquer tipo ou a determinados tipos de frustação.
É uma discussão muito interessante, para a gente pensar, se alguém que tem problemas psíquicos dessa natureza deveria estar em um reality show. Essa questão foi levantada pelo meu amigo Fefito, em uma coluna de televisão no UOL, publicada ontem.
Exatamente endereçando essa questão: será que alguém que tem borderline deveria estar em um reality show? A gente sabe que esse tipo de programa investe muito nessas situações de pressão, nessas situações em que a pessoa se coloca ou é colocada na berlinda o tempo todo. Isso pode causar um sofrimento muito grande para a pessoa, mesmo ela querendo participar, e pode causar um impacto também para as outras pessoas que estão convivendo com ela naquela situação de confinamento. E a gente não pode esquecer que está sendo transmitido para milhões de pessoas no Brasil todo.
Então eu acho que é uma discussão importante, ainda mais se tratando de setembro – a gente está no Setembro Amarelo, que é o mês de prevenção ao suicídio e de discussão de prevenção em saúde mental.
É muito importante a gente quebrar o tabu, o estigma, o preconceito que cerca a questão dos transtornos mentais, dos transtornos emocionais, mas a gente não pode perder de foco que, muitas vezes, essas pessoas, expostas, podem sofrer uma série de situações, de comprometimentos de impacto na sua vida futura, então é uma discussão muito importante.
Pessoal, só para finalizar: borderline precisa de acompanhamento. Não é incomum que a pessoa faça processos de psicoterapia de longa duração e, junto com o processo de psicoterapia, muitas vezes ela tem que usar algum tipo de medicamento para tentar controlar essas oscilações, essas variações de humor, que são muito frequentes.
Não é incomum, também, que outros transtornos psiquiátricos aconteçam junto com a síndrome borderline. Por exemplo: a pessoa pode ter questões de ansiedade, de depressão, pode ter, muitas vezes, a sobreposição do borderline com transtorno bipolar, então é muito importante que essas pessoas recebam atenção psiquiátrica, psicoterápica e que, muitas vezes, usem medicamentos para manutenção.
Além disso, as pessoas que estão em volta dela também têm que se trabalhar para lidar com uma série de situações.
Espero que esse vídeo possa ter contribuído com essa discussão.
Saiba mais:
Borderline: entenda como os sintomas do transtorno interferem nos relacionamentos
Transtorno de borderline e trauma na infância: relação é mais forte que se pensava