Algumas pessoas têm mais probabilidade do que outras de experimentar condições crônicas como ansiedade e depressão, e muitos cientistas tentam analisar o que está por trás dessa tendência.
Um estudo recente, publicado na Jama Network Open, examinou vários biomarcadores e como eles estavam associados ao risco de depressão, ansiedade e transtornos relacionados ao estresse. Os pesquisadores analisaram dados de mais de 211 mil participantes.
Quase 90% dos participantes do estudo nasceram na Suécia, e a idade média dos participantes na primeira amostragem de sangue foi um pouco mais de 42 anos. Nessa primeira fase, nenhum deles tinha diagnóstico de transtornos mentais.
Os pesquisadores mediram o açúcar no sangue e vários biomarcadores que medem componentes relacionados às gorduras, incluindo colesterol total, lipoproteína de baixa densidade ou colesterol "ruim", lipoproteína de alta densidade ou colesterol "bom" e triglicerídeos.
Os pesquisadores acompanharam os participantes por uma média de 21 anos, observando o desenvolvimento de ansiedade, depressão e transtornos relacionados ao estresse, como transtorno de estresse agudo e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
A análise levou em conta questões como status socioeconômico, país de nascimento, status de jejum na medição do sangue, idade na medição do sangue e sexo.
Ao longo do estudo, 16.256 participantes receberam diagnóstico de depressão, ansiedade ou transtorno relacionado ao estresse. A idade média do diagnóstico foi de 60,5 anos. Cerca de 3 mil participantes receberam diagnósticos de depressão e ansiedade.
O estudo descobriu que níveis mais elevados de açúcar no sangue e triglicerídeos estavam associados a um maior risco para os três transtornos mentais, e níveis mais elevados de colesterol "bom" estavam associados a um risco reduzido.
Os resultados destacam a importância de monitorar esses biomarcadores metabólicos e de fazer um acompanhamento regular para que as pessoas possam receber diagnósticos de transtornos mentais precocemente.
Embora esses achados sejam interessantes, a pesquisa teve várias limitações. Primeiro, foi conduzida em uma população específica, então os resultados podem não ser generalizáveis para outras populações. Estudos futuros poderiam incluir amostras demográficas mais diversas para confirmar os resultados deste estudo.
Como em todos os estudos observacionais, não dá para estabelecer uma causalidade; pode ser, por exemplo, que pessoas com risco de desenvolver depressão e ansiedade tenham uma fisiologia que cause mudanças metabólicas, com impacto nos níveis de glicose e triglicerídeos.
Os resultados também podem ser confundidos por atributos como obesidade ou inatividade física, que podem ter impacto tanto níveis de glicose e de triglicerídeos, quanto no risco de desenvolver depressão e ansiedade.
De qualquer forma, esses resultados destacam a relação complexa entre os fatores de risco cardiovascular e a saúde mental. E mostram que ter um estilo de vida saudável, o que inclui fazer atividade física regular e ter uma alimentação mais saudável (como por exemplo a dieta mediterrânea), podem ter um impacto positivo na saúde mental.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin