A Organização das Nações Unidas (ONU) tem um órgão que se dedica a cuidar do HIV/Aids no mundo chamado Unaids. Entre outras ações, a Unaids produz e divulga relatórios que compilam dados de como anda a infecção por HIV no mundo todo e assim o fez em 2019, por meio de um relatório chamado Communities at the centre (“Comunidades no centro”, em tradução livre). Segundo esse relatório, a distribuição de novos casos de infecção por HIV na população de 15 a 49 anos de idade naquele ano foi de 18% em clientes de trabalhadoras sexuais.
Esse número ecoa a afirmação da Bruna (leia a coluna anterior) sobre a quantidade de homens que a procuram para fazer sexo sem camisinha. A exposição desprotegida eleva consideravelmente o risco de infecção por HIV e outras ISTs, que são prevenidas com o uso correto de preservativo, entre outras medidas de prevenção já existentes, no intuito de frear os casos de infecções sexuais no mundo.
Além do HIV/Aids, existem outras doenças que podem ser transmitidas através do sexo desprotegido, entre elas estão:
E muitas outras infecções e doenças causadas por agentes infecciosos, que encontram no sexo desprotegido o meio ideal de infectar o organismo do indivíduo que se expõe.
O Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, do Ministério da Saúde, instituiu a "Mandala da Prevenção Combinada", como a associação de diferentes ferramentas ou métodos (ao mesmo tempo ou em sequência), conforme situação, risco e escolhas, pode prevenir as infecções sexualmente transmissíveis (ISTS) e a AIDS.
Dois métodos interessantes de prevenção, entre tantos já existentes, é a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) e PEP (Profilaxia Pós-Exposição), que, além da camisinha, desempenham papel importante na prevenção do HIV/AIDS.
A PrEP, como o próprio nome define, é utilizada antes do ato sexual sem preservativo. O paciente toma uma combinação de medicamentos antirretrovirais diariamente, que vão se concentrar no organismo e, caso ocorra exposição ao vírus HIV, a substância farmacologicamente ativa no sangue impedirá a instalação da infecção. O SUS disponibiliza a PrEP, mas o interessado deve atender a alguns critérios para que possa receber esse medicamento:
Ou se você, frequentemente, faz o uso de PEP e deixa de utilizar camisinha nas relações sexuais que envolvem penetração.
Números da Coordenadoria de IST/AIDS do município de São Paulo mostrou que em 2021, na capital, mais de 10 mil pessoas faziam o uso de PrEP o que demonstra o crescimento na distribuição dessa medida profilática tão importante e eficaz.
A PrEP, oferecida pelo SUS desde 2018, já reduziu em mais de 25% o número de novas infecções pelo vírus HIV na cidade de São Paulo, em relação aos anos de 2018 e 2019.
Já a PEP é um medicamento de urgência, ou seja, caso a pessoa tenha se exposto ao risco de ter contraído o HIV, ela deve se dirigir a um serviço de saúde especializado e solicitar os medicamentos da profilaxia pós-exposição. Lembrando que, por se tratar de urgência, o paciente tem até 72 horas após a exposição para iniciar o tratamento, que é feito também com medicamentos e dura 28 dias.
Em 2021, já se sabe que receber o diagnóstico de HIV não é sentença de morte, como era o imaginário coletivo dos anos 80 e 90 (época do auge da epidemia de HIV/AIDS no Brasil). Um paciente que descobre precocemente a sua sorologia e inicia o tratamento antirretroviral com os medicamentos, que hoje possuem cada vez menos efeitos colaterais, é capaz de viver de forma saudável e manter a qualidade de vida.
Uma boa adesão ao tratamento antirretroviral é capaz de diminuir tanto a quantidade de vírus circulante no organismo, que pode suprimir a carga viral no sangue, ou seja, quando o paciente fizer um teste para detectar a presença do HIV no sangue, o vírus será indetectável. Isso não significa a cura, mas sim um número muito pequeno de vírus no organismo, graças ao medicamento que está na circulação. E é sabido que uma pessoa indetectável não transmite mais o vírus, assim, indetectável é igual a intransmissível.
No entanto, por mais que seja possível viver com HIV, é preferível que as pessoas se cuidem e não o adquiram, para não ter que tomar remédios por toda a vida, nem carregar um estigma que ainda é muito grande em relação às pessoas que vivem com HIV. Existem muitas formas de prevenção e combiná-las para que você consiga encontrar a que for mais adequada para se cuidar é um direito seu.
Sexo é muito bom! Há quem não goste e tudo bem. Porém, para ser bom e prazeroso, deve haver consentimento, vontade e, sobretudo, respeito entre as partes! Pode ser sexo sem amor? Pode! Mas sem respeito não rola.
Respeitar seu próprio corpo e praticar o autocuidado inclui desde você saber o que te faz bem até lançar mão dos diferentes métodos de prevenção nas relações sexuais, para que, assim, seja assegurada uma maior qualidade de vida, mantendo tanto a saúde física, como mental. Ah, agora com a pandemia da Covid-19, um dos métodos de prevenção é, além da vacina, a máscara e também o distanciamento social, infelizmente. Então, busque o prazer, mas com responsabilidade, cuidado e segurança.
Anderson José
Estudante de medicina na Ufac (Universidade Federal do Acre), autor do podcast Farofa Médica e da página de Instagram @oiandersao