Marcar um jantar, uma cerveja ou, simplesmente, sexo casual é comum entre as pessoas, sobretudo neste momento em que a pandemia de Covid-19 começa a dar sinais de certo controle. Mas o que faz um primeiro encontro ser legal, ou, então, o que faz ele ser péssimo?
“Conheci ele no Tinder há alguns meses, marcamos de nos encontrar agora em setembro [de 2021] e ele veio de carro me buscar onde eu estava esperando. Quando ele chegou, entrei no carro e fomos até uma avenida que eu conhecia, conversamos bem pouco sobre como tinha sido o dia até aquela hora e, em menos de três minutos, ele começou a mexer na carteira e perguntou se havia algum posto de gasolina por perto. Eu indiquei um logo à frente e ele falou que queria comprar uma água porque estava muito quente. Chegando ao posto, ele pediu que eu fosse comprar a água, pois iria abastecer o carro. Eu gentilmente aceitei, ele me deu o dinheiro que havia tirado da carteira e eu saí do carro indo em direção à loja de conveniência do posto de combustível. Fui mexer no meu celular e vi que a foto dele havia sumido do WhatsApp. Pensei que tivesse sido uma brincadeira da parte dele. Quando saí da conveniência vi que o carro não estava mais no posto e ele, simplesmente, havia me bloqueado de tudo e me deixado lá. A sorte é que eu conhecia o lugar que estava, liguei para o meu melhor amigo chorando, dizendo o que tinha acontecido e pedi para ir até a casa dele. Isso não faz sentido porque, nas conversas, ele falava para mim que me queria e, quando me conheceu, me deixou lá sem ter sido sincero. Nunca imaginei que passaria por isso...”
O relato acima é do advogado paulistano Matheus Toito, 24, que passou por essa experiência recentemente ao marcar um encontro com um usuário do Tinder. Porém, poderia ser em qualquer outro aplicativo ou site de relacionamentos, já que, entre as regras de uso das plataformas, ainda não pedem declaração de estar ciente que é necessário ter noção para usufrui-las.
Alguns podem pensar que ao criar um perfil em qualquer aplicativo de relacionamento você está sujeito a passar por certas situações. No entanto, isso não é desculpa para tratar o outro como um ser descartável, colando o botão “delete” na testa de alguém. E não se trata de papo de “filosofia baumanniana”, embora ela faça algum sentido nessa discussão, mas refere-se a puro e simplesmente respeito e tentativa de ser agradável com alguém que você dedicou algum tempo da sua vida.
A comunicação, de fato, é uma das habilidades mais importantes para toda e qualquer pessoa, independentemente de onde esteja e o que faça. Em organizações, grandes líderes prezam por uma boa comunicação em todo o seu conjunto: verbal, não verbal, incluindo nesse ínterim a postura de como se portar em diferentes ocasiões. Porém, a incapacidade de se comunicar não se restringe às atividades profissionais, por exemplo, passa também pelas relações afetivas que as pessoas tentam – ou não – construir.
Estabelecer um diálogo saudável, sem vácuos ou aqueles silêncios constrangedores, é uma tarefa onerosa para muitos e que, algumas vezes, a depender da pessoa, não existe o mínimo de esforço para que isso ocorra. Conversar de maneira fluida cria a possibilidade de ser claro nas intenções ao conhecer alguém, seja para um jantar, uma caminhada no parque, sexo casual, e por aí vai. O ditado popular “o combinado não sai caro” faz sentido não apenas no contexto financeiro, mas pode ser aplicado a outras situações, como a dos “dates” também, já que assim, com as coisas claras, evita-se estresse desnecessário e, em alguns casos, aquela cervejinha para esquecer o encontro ruim.
Com essa era de filtros para rosto, cabelo, olhos e afins, cada vez mais as pessoas aparentam ser menos imperfeitas nas fotos das redes sociais e aplicativos de relacionamento, então, é até esperado que, pessoalmente, possa surgir uma ou outra diferença entre o virtual e o real, ou melhor, entre a foto e a aparência ao vivo. Pode ocorrer de você não se sentir atraído fisicamente pela outra pessoa durante o primeiro encontro (porque, possivelmente, você gravou na mente aquela imagem tratada por fotos) e está tudo certo.
É normal acontecer isso e não há problema em não rolar aquela química. O que fazer quando isso acontece? Fale! Comunique-se! É chato virar para o outro e dizer “então, amig@, não vai rolar”? Sim, é uma situação ruim e constrangedora, mas pior do que isso é, simplesmente, não falar nada e sumir, como o rapaz que largou o Matheus minutos depois de o conhecer. “Mas eu não me sentiria bem falando para a pessoa que não curti ela...”. Ok, inventa uma desculpa, faça algo para sair dessa situação, sem se magoar e não fazer isso com alguém que dedicou um tempo da vida para estar ali contigo.
A habilidade de comunicação não é o forte de muitos, mas o respeito tem de ser! Destratar uma pessoa porque não gostou dela pessoalmente não é algo que se faça e não há nada que possa reverter essa situação, a não ser o respeito mútuo e o mínimo de empatia. Se você não sabe falar, ou não faz a mínima questão de ser agradável com quem você irá se encontrar pela primeira vez, por favor, fique em casa e economize o tempo alheio!
Confira:
A psicóloga Marisa Salles enfatiza que, ao passar por uma situação de rejeição, sobretudo afetiva, nossa cabeça tende a criar peças conosco, como trazer à tona sentimentos ruins vivenciados anteriormente. “Quando passamos por alguma rejeição, a gente reedita alguma experiência que já vivemos. Isso faz com que a nossa autoestima caia e passamos a acreditar que o problema dessa situação foi causado por nós”, pontua Marisa. No entanto, vale ressaltar que o problema não está em você, e alimentar isso é criar campo fértil para uma espécie de “looping” de um sentimento recorrente, como uma voz interior que fica o tempo todo repetindo “tá vendo só, mais uma vez isso, ninguém mandou tentar de novo”, o que é altamente danoso e perigoso, já que cada experiência é única e diferente das outras.
Seja você! Não finja situações! Não construa um personagem! Se você conheceu alguém em algum aplicativo, seja a mesma pessoa agora pessoalmente. Caso não role, bola para frente, mas que isso seja porque, de fato, não houve química entre duas pessoas verdadeiras e não fakes que se transpuseram para a vida real, porque, primeiramente, o “match” ideal é de você consigo mesmo. “Date” ruim é normal, mas se esforce para que não seja, e nem é tão trabalhoso assim: ser você, ser agradável e respeitoso. Ponto. Essa é a receita!
Perguntamos ao Matheus, nosso abandonado no posto, se ele gostaria de enviar uma resposta ao boy lixo que deixou ele à míngua com uma garrafinha de água na mão:
Desejar coisas ruins para alguém é feio, né? Então deixa para lá! Prefiro continuar sendo uma boa pessoa até com quem não merece”, respondeu ele.
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Anderson José
Estudante de medicina na Ufac (Universidade Federal do Acre), autor do podcast Farofa Médica e da página de Instagram @oiandersao