Passadas as festas de fim de ano, após reencontros com familiares e amigos, uma onda de quadros gripais surgiu e vem desafiando os sistemas de saúde nas diferentes regiões do Brasil. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, entre o dia 1 e o dia 5 de janeiro, a cidade registrou recorde de atendimentos de pacientes com sintomas gripais: foram 57.351 atendimentos a pessoas com sintomas respiratórios dos quais 32.956 eram casos suspeitos de Covid-19.
A gripe é uma doença causada por um vírus chamado influenza que circula durante todo o ano entre as pessoas, mas que, em geral, causa aumento de casos durante os períodos mais frios entre o outono e inverno, por exemplo. No entanto, existe um subtipo do vírus influenza chamado de H3N2 (ou A), que é o responsável pela explosão de casos atualmente. Isso ocorre também porque a vacina contra a influenza não cobre esse subtipo, aumentando a susceptibilidade de se infectar com o vírus e desenvolver um quadro gripal.
Vale lembrar que nem todo quadro respiratório se trata de gripe e infecção pelo vírus influenza. Nos dias atuais, apresentar sintomas típicos de gripe pode ser influenza, mas também Covid-19, além de resfriados e viroses simples, causadas por outros vírus respiratórios, incluindo rinovírus e adenovírus.
Em tempos de tantos questionamentos e falácias sobre vacinas e imunização, vale sempre ressaltar que: sim, vacinas salvam vidas! Você que está lendo este texto aqui com certeza já foi vacinado contra algum patógeno que circula entre as pessoas.
O Ministério da Saúde promove todos os anos a Campanha Nacional contra a influenza que garante vacinação gratuita de todos aqueles que devem se imunizar. São eles, entre outros grupos considerados prioritários pelo ministério:
Na rede privada é possível qualquer pessoa acima de seis meses de idade ser vacinada.
As vacinas de influenza são atualizadas anualmente, de acordo com os subtipos do vírus circulante no ano anterior. Isso significa que a vacina de 2021 não cobre o subtipo H3N2, porém, o imunizante a ser desenvolvido ao longo deste ano oferecerá proteção contra essa nova cepa que anda se espalhando por aí e superlotando as unidades de saúde.
Em tempos de pandemia de Covid-19 e o surgimento de variantes ao mesmo tempo de flexibilização das medidas de distanciamento, é natural que pessoas com sintomas gripais se preocupem em procurar atendimento médico, mas nem todos têm indicação para procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) ou então uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). É o que explica Gustavo Dittmar, médico infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e do Hospital Sírio-Libanês.
“Pessoas consideradas grupos de risco, incluindo idosos, gestantes, crianças menores de 5 anos, imunossuprimidos e portadores de doenças pulmonares devem procurar atendimento médico no início dos sintomas. Mas, independente de fator de risco ou não, existem sinais que indicam procura de atendimento, entre eles estão saturação de oxigênio menor que 94% e falta de ar, por exemplo. São critérios que podem classificar o paciente com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)”, afirma o médico.
Como não há tratamento específico para viroses, de uma forma geral, as medidas terapêuticas são de suporte e para os sintomas, ou seja, são indicados medicamentos para atenuar o quadro, seja por aliviar as dores de cabeça e no corpo, descongestionar o nariz e diminuir a febre.
Além das medidas citadas acima, uma coisa simples, barata e rápida de fazer como forma de descongestionar o nariz é a lavagem intranasal com soro fisiológico, principalmente em crianças com muito catarro e coriza.
O Tamiflu (oseltamivir) é um antiviral que age impedindo a multiplicação e bloqueando as ações do vírus influenza. Ele é indicado para pacientes com influenza desde que iniciado o tratamento entre o primeiro e o terceiro dia de início dos sintomas, podendo ser usado por adultos ou crianças maiores de 1 ano sob orientação e prescrição médica.
“O Tamiflu também é indicado para pacientes com sintomas gripais e que moram com pessoas consideradas do grupo de risco, porque ele diminui a carga viral, além dos sintomas, e assim você consegue proteger essa pessoa mais vulnerável”, acrescenta Dittmar.
A palavra antibiótico origina-se do grego anti (contra) + bios (vida), ao pé da letra: contra a vida ou que produz a morte. Trata-se de uma substância capaz de inibir o crescimento das bactérias. Portanto, não há fundamento em utilizar essa classe de medicamentos para tratar quadros virais. Em longo prazo, inclusive, o uso indiscriminado de antibióticos é um risco à saúde pública, dada a seleção natural de patógenos resistentes.
Ainda de acordo com Dittmar, durante a pandemia da Covid-19 no Brasil, foram utilizadas grandes quantidades de azitromicina para tratar a infecção pelo Sars-Cov-2 sem qualquer evidência científica. “O uso sem fundamento fez aparecer bactérias resistentes à azitromicina. Para o tratamento da clamídia, uma IST causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, as diretrizes do CDC de 2021 já indicam doxiciclina como primeira escolha ante a azitromicina, por exemplo.” Com uma certa frequência, pode acontecer de um quadro gripal estar associado à uma infecção bacteriana, como pneumonia bacteriana. Nessas situações de quadros sobrepostos, os antibióticos são indicados, porém, com base em exames e acompanhamento médico.
As medidas adotadas para evitar a contaminação pela Covid-19 são válidas também para evitar infecção pelo vírus influenza. Em caso de sintomas respiratórios, além das indicações mencionadas ao longo deste texto, o distanciamento social e o uso de máscara representam uma boa medida como forma de evitar a propagação do vírus e diminuir os casos por aí. Então, atenção aos sinais e sintomas, e responsabilidade coletiva ao evitar aglomerações, dada a situação epidemiológica.
Esta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo.
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Anderson José
Estudante de medicina na Ufac (Universidade Federal do Acre), autor do podcast Farofa Médica e da página de Instagram @oiandersao