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Positividade tóxica: o mal-estar do bem-estar a todo custo

Fazer de conta que está bem só faz mal - iStock
Fazer de conta que está bem só faz mal - iStock

Dados do IBGE de 2019 diziam que, até então, 16,3 milhões de pessoas sofriam com a depressão no Brasil. Com a pandemia da Covid-19, que trouxe consigo isolamento, perdas e desemprego, os sentimentos de tristeza, estresse e depressão se afloraram ainda mais. E, diante disso, o que fazer para melhorar?

As redes sociais ganharam espaço importante na vida das pessoas, seja como forma de consumir conteúdo ou também de produzir e até ganhar renda. Porém, nem tudo é legal na internet porque, ao mesmo tempo que se abre espaço para o compartilhamento de ideias e fotos em paisagens belas, os ataques e o “excesso de aparências” também crescem.

É nesse sentido que as redes podem se tornar ambientes tóxicos para as pessoas. “Seja grato”, “Não reclame”, “Seja a mudança”, “Good vibes only” e coisas do tipo são repetidas diuturnamente em milhares de posts que preenchem as redes, mas será que é possível ser “good vibes” toda hora? A cultura do bem-estar é legal, porém, pode ser perigosa ao não conseguir enxergar aqueles que não estão bem! É aí que a positividade e a busca por apenas boas energias se tornam tóxicas.

Quando uma pessoa sente uma dor física que não passa com o tempo, na maioria das vezes, ela vai tentar entender de onde veio esse desconforto. Um trauma? Algo que comeu? Ou alguma coisa orgânica? Seja lá qual for o motivo, ocorre uma reflexão e até uma possível busca de ajuda de um médico, por exemplo, para resolver esse problema. No entanto, ninguém vira para quem está sofrendo de dor no dedo mindinho do pé e diz: “Seja grato porque o seu dedão não dói”. E por que então muita gente negligencia a “dor mental”? A negação de viver sentimentos ruins é uma das formas de perpetuação do sofrimento. Quando você não nega o que sente, a probabilidade de buscar ajuda é muito grande. Olhar para aquilo que está sendo sentido é importante para a busca de ajuda qualificada.

Confira:

O que fazer diante do sofrimento?

Ninguém quer ver uma pessoa querida sofrendo. E, na tentativa de ajudar essa pessoa, muitos de nós podemos nos equivocar ao tentar levantá-la. Repetir frases de efeito positivas pode ter efeito contrário para quem as ouve. Ser grato pelas coisas boas da vida é importante, mas isso não significa que alguém reclamando de algo que está incomodando seja ingrato. “Fique bem” e alguém quer ficar mal? É uma tarefa árdua conviver e tentar ajudar pessoas com depressão ou ansiedade. Mas, como ajudar, então?

A psicóloga Simone Miquelin dividiu um pouco de sua experiência para tentar ajudar a quem quer oferecer ajuda. Entre outras coisas, a psicóloga entende que negar a existência da dor é algo que não ajuda a resolvê-la. Ao invés de querer sair da dor, portanto, a gente tem que entender o que ela está querendo dizer, para assim podermos buscar ajuda qualificada.

A pessoa não quer dicas. Ela quer ser ouvida! Uma pessoa que está mal busca acolhimento e nós podemos ajudá-la estando presentes, inteiros naquele momento a ouvindo. Ao invés de repetir frases positivas que podem ser tóxicas, podemos substituí-las por outras, como, por exemplo, ‘estou aqui para o que você precisar’, ‘como eu posso te ajudar?’, todas com o intuito de acolher e ouvir o que essa pessoa está sentindo.” (Simone Miquelin, psicóloga.)

*Esta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo.

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Anderson José

Anderson José

Estudante de medicina na Ufac (Universidade Federal do Acre), autor do podcast Farofa Médica e da página de Instagram @oiandersao