A competição entre os estudantes se inicia mesmo antes do ingresso na faculdade, pela melhor colocação no vestibular, e prossegue nas quadras durante os jogos universitários
Intermed, Engenharíadas, Economíadas e outros tantos eventos não são congressos e jornadas científicas, mas sim nomes dados a alguns dos jogos universitários de diferentes cursos de nível superior no Brasil. São disputas esportivas entre estudantes de graduação de todo o Brasil, em que, pelo menos uma vez no ano, as atléticas das mais variadas instituições universitárias concorrem para ver quem se consagra campeã em diferentes modalidades de esportes. Um time funciona como tal se seus jogadores atuam em sintonia para levar a equipe até o pódio e isso pode ser aplicado a diferentes situações e ambientes, desde os universitários que formam a equipe de futebol, por exemplo, até aqueles que constituem uma turma que conviverá durante 6 anos, no caso da graduação médica, por exemplo.
É comum um acadêmico ter feito mais de um ou dois anos de cursinho para ocupar um assento nos bancos universitários da graduação em algumas das instituições mais concorridas do país. A Fuvest, por exemplo, registrou média de 129 candidatos por vaga para o curso de medicina no ano de 2020 e, diante de tamanha disputa, a busca por melhores resultados permeia as relações dos estudantes mesmo antes de vestirem um jaleco ou o uniforme para defender seu time dentro de quadra. No entanto, essa busca por ser melhor a todo instante ou sempre ter as respostas para todas as perguntas merece atenção por um simples motivo: ninguém é assim o tempo todo! E se isso não fica claro, quadros de ansiedade e até depressão encontram campo fértil para crescerem e travarem uma disputa com a saúde mental daqueles que buscam essa coisa irreal chamada perfeição.
A Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) realizou uma pesquisa em 2016, revelando que 30% dos alunos de instituições federais procuraram atendimento psicológico durante a graduação. Isso pode ter os mais variados motivos, mas é comum a todos os estudantes universitários o excesso de cobrança, no caso do curso de medicina, a pressão excessiva para nunca errar acompanhada das comparações com os demais colegas em uma corrida para ver quem é o melhor e alcança o primeiro lugar, por mais que a época de vestibular tenha ficado para trás. As melhores notas, o melhor coeficiente de rendimento, o melhor projeto... Essa busca ou transforma os colegas em concorrentes ou faz você refém de si mesmo e o incapacita para se desenvolver social e academicamente com o outro. Esse cenário não é o ideal para quem está iniciando em uma carreira que depende dos outros colegas para desenvolver habilidades necessárias ao desempenho das funções ao adentrar no mercado de trabalho.
Não há problema nenhum em tentar melhorar a cada dia e superar suas dificuldades, mas até para isso é necessário um ponto de equilíbrio e a consciência de que cada um tem um processo e um tempo de aprendizagem e de vida. Óbvio, existe um abismo entre o discurso e a prática, porém, tudo requer um começo e pode valer muito a pena se ele iniciar com você enxergando seus colegas como pessoas que podem agregar à sua formação e não, simplesmente, como meros concorrentes perigosos. É um exercício diário que requer paciência e estofo mental para substituir o verbo competir pelo cooperar.
Dentro de campo, se o volante coopera com o atacante, o time pode marcar um gol e se consagrar campeão. E dentro da sala de aula, por que não cooperar com os futuros colegas de profissão? Isso cria um ambiente muito mais saudável de ajuda mútua e troca de experiências, favorecendo uma melhor aprendizagem para todos, além de economizar aquela graninha com ansiolítico pra poder gastar no happy hour com os colegas depois da aula. Um golaço de placa, né?
Anderson José
Estudante de medicina na Ufac (Universidade Federal do Acre), autor do podcast Farofa Médica e da página de Instagram @oiandersao