O fenômeno não é um evento raro e já se fala até em Covid crônica
Anderson José Publicado em 26/04/2021, às 09h00
No processo de saúde-doença, você sabe o que significa uma síndrome? Em poucas palavras, síndrome diz respeito a um conjunto de sinais e sintomas que definem a manifestação de uma condição patológica. Fadiga, falta de ar, perda de paladar e olfato, por exemplo, são mais presentes na Síndrome Pós Covid-19.
Como a maior parte das doenças, a Covid-19 também possui uma fase aguda marcada pela manifestação de diversos sintomas, que incluem:
A Síndrome pós-Covid surge, então, após essa fase aguda, e os sintomas persistem semanas após o início da infecção. Segundo o médico infectologista e Membro do Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública para Doença pelo Coronavírus 2019 (COE-Covid-19 Ceará) Keny Colares, esse não é um evento raro e já se fala até em Covid crônica:
“Alguns pacientes ainda são sintomáticos passadas três ou quatro semanas do início da doença e isso já configura uma síndrome pós-covid. Há estudos que até indicam um quadro de Covid crônico em indivíduos que apresentam sintomas superior a três meses.”
Existem estudos até que sugerem que o vírus pode invadir e danificar diferentes células neuronais como astrócitos e neurônios causando uma inflamação que pode resultar em agitação psicomotora, delírios e alucinações meses após a fase aguda da Covid-19.
Um estudo europeu avaliou retrospectivamente um grupo de pacientes com diagnóstico para Covid-19 e constatou que em 87% dos indivíduos ocorre a persistência de pelo menos um sintoma da fase aguda por, pelo menos, três meses após o início da infecção. Segundo Colares, isso acontece de 1/3 a 2/3 dos casos e é mais prevalente em pacientes que precisaram de hospitalização por desenvolverem as formas graves da doença.
Ou seja, nem todos aqueles que se infectaram pelo Sars-Cov-2 desenvolvem essa síndrome que ainda é carregada de dúvidas, bem como muitas coisas que permeiam o novo coronavírus, embora a ciência avance dia após dia na busca por entender melhor esses eventos que não são raros e preocupam a população ao passo que desafiam os sistemas de saúde em todo o mundo.
Ainda não há tratamento definido, mas os médicos estão investigando diferentes terapêuticas que podem auxiliar no processo de recuperação desses pacientes. Eles precisam ser acompanhados para o tratamento e manejo correto dos sinais e sintomas apresentados. E esse é um dos maiores desafios da Covid-19 principalmente no Brasil: o único tratamento disponível, até então, é a vacinação ampla, mas que caminha a passos largos em nível federal.
Até que a vacina ou que até um medicamento esteja disponível, é de extrema importância seguir as medidas de distanciamento social, protocolos de higiene e evitar sair de casa sem necessidade.
O Brasil, segundo levantamento de pesquisadores e cientistas, já possui uma onda de paciente com a Síndrome pós Covid-19. Dados já dizem que há mais de 1,4 milhão de casos e justamente em um momento de acentuação da crise sanitária que se alastra no país de norte a sul. Por se tratar de uma síndrome, existe um conjunto de sinais (aquilo que o médico vê) e sintomas (aquilo que o paciente refere) marcantes e que arrastam desde a infecção aguda. Abaixo, construímos um quadro comparativo entre esses dois momentos com base nos achados mais prevalentes na literatura recente com destaque para uma meta-análise feita por pesquisadores norte-americanos intitulada "More than 50 Long-term effects of COVID-19: a systematic review and meta-analysis". Vide quadro abaixo:
SINAIS E SINTOMAS NA INFECÇÃO AGUDA DA COVID-19 | SINAIS E SINTOMAS NA SÍNDROME PÓS COVID-19 |
Febre | Fadiga de maneira contínua |
Tosse seca | Tosse seca e arrastada |
Falta de ar | Falta de ar recorrente |
Ageusia (perda de paladar) | Ageusia persistente |
Anosmia (perda de olfato) | Anosmia persistente |
Dor de cabeça | Dor de cabeça persistente |
Dor muscular | Dor muscular e nas articulações |
Cansaço | Cansaço a pequenos esforços |
De uma maneira geral, muitos sintomas de fase aguda, como visto, permanecem de maneira prolongada na fase crônica, com exceção da febre que, em suma, é marcador de infecção de fase aguda.
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