Psiquiatra traz reflexões sobre a presença da bebida alcoólica na nossa vida profissional
Redação Publicado em 20/09/2022, às 10h00
Muita gente usa o álcool como uma forma de se automedicar, seja para relaxar depois de um dia suado, ou para ter uma boa relação com o chefe e/ou os colegas do trabalho. Para algumas pessoas, no entanto, essa cultura do “happy hour” pode gerar complicações, como explica o psiquiatra e médico do trabalho Ricardo Baccarelli, em entrevista a Jairo Bouer nesta série sobre álcool e comportamento.
Baccarelli comenta que transtornos de humor como ansiedade e depressão hoje representam quase metade dos afastamentos do trabalho por quadros psiquiátricos. O transtorno por uso do álcool já foi mais comum, de acordo com ele, mas ainda representa cerca de 10 a 15% desse tipo de afastamento.
Para o médico, grandes empresas estão mais conscientes e focadas na prevenção dos problemas associados ao uso inadequado de bebida alcoólica, e estão mais equipadas para mapear e oferecer tratamento para os funcionários. Além disso, ele acredita que a própria população esteja mais consciente dos riscos associados ao abuso de álcool, já que não é incomum ter um caso do transtorno dentro da própria família.
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Porém, é impossível descolar o consumo de bebida alcoólica de situações sociais, e isso inclui o relacionamento com chefes, clientes, subordinados e colegas de trabalho. Seja em atividades de menor prestígio ou entre advogados, médicos e executivos, a substância é consumida com determinados objetivos: “Para ajudar a relaxar, a dormir e até para melhorar o contato social entre as pessoas”, diz.
Baccarelli afirma que, em certos ambientes, sair para beber é quase que obrigatório. Quem trabalha em construção civil, por exemplo, pode sofrer até bullying por não ir para o bar no fim do expediente. E ele próprio já atendeu um brasileiro que desenvolveu um problema grave por trabalhar numa empresa asiática que penalizava quem não participasse do “happy hour”.
Um cenário comum para quem desenvolve um transtorno relacionado ao álcool é a comorbidade, ou seja, dois transtornos que ocorrem em paralelo. Assim como muita gente bebe para tentar obter alívio para sintomas de quadros como depressão ou ansiedade, é comum que pessoas com transtorno por uso de álcool acabem desenvolvendo esses transtornos. Em todos esses casos, é preciso tratar as duas condições em conjunto, "ou o paciente não se estabiliza", comenta Baccarelli.
“Nem todo mundo sabe, mas o álcool destrói o cérebro, é como se ele derretesse aos poucos”, explica o médico. “Se você pega uma pessoa de 40 anos que bebe muito há 20, você olha o exame e parece o cérebro de uma pessoa de 90 anos."
“O controle social do álcool no Brasil é muito ruim, não há campanhas do governo mostrando os problemas que o alcoolismo causa”, opina o médico. O tratamento do transtorno por uso de álcool é difícil, mas quanto mais cedo ele se inicia, maiores as chances de sucesso.
Por isso é importante que as pessoas conheçam seus limites e saibam se podem ou não beber. E, para Jairo, algumas pessoas também precisam refletir se não estão, elas próprias, estimulando essa cultura do álcool como essencial nas relações de trabalho, que pode ser tão prejudicial à vida de alguns indivíduos.
Assista à entrevista na íntegra:
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