Redação Publicado em 22/04/2022, às 16h51
Nas duas últimas edições do Big Brother Brasil, o favorito do público foi determinado muito cedo no programa. O que mudou, nesses últimos anos, para gerar essa previsibilidade? Esse foi o tema principal da edição de fechamento do “Consultório BBB”, com Luiza Leão e o psiquiatra Jairo Bouer, no Notícias na TV. “Será que a pandemia mudou a gente?”, questionou a apresentadora.
Para Jairo, isso não é coincidência. Uma das hipóteses para isso é que houve um claro processo de "profissionalização" do BBB. "Antes mesmo de entrar, essas pessoas já têm equipes montadas, que dedicam muito tempo na defesa do seu titular, então há grupos que rapidamente se identificam com um participante por causa dessas equipes que trabalham atrás das câmeras", opina Jairo.
Outra hipótese é que, talvez por causa da pandemia, as pessoas estão mais propensas a buscar logo um referencial, um ponto de identificação, até para ter um porto seguro no meio das incertezas. Tudo isso foi agravado, sem dúvida, pelo cenário de polarização política que o Brasil vem enfrentando há muitos anos.
Muitas vezes, durante o Consultório BBB, que foi realizado semanalmente ao vivo, Luiza foi atacada nas redes sociais ao expressar uma suposta simpatia ou antipatia por determinado candidato. "É um ataque pessoal, mesmo: 'eu sou a favor deste cara e, se você falar algo contra, a gente te desconstrói'", ilustra o psiquiatra.
"A polarização começou com a questão política e, depois, passou a invadir outras áreas da nossa vida, como a social e a cultural, então acho que isso também afeta a relação com os participantes do BBB", acredita Jairo. Nesse universo de bolhas, fica fácil gerar favoritismos e opiniões radicais contra quem se manifesta de um modo diferente do grupo.
Luiza aproveitou a última edição para questionar ao psiquiatra como ficar confinado por três meses pode mexer com o psicológico dos participantes. "É um grande desafio ficar desconectado, hoje em dia, e isso gera uma ansiedade, uma insegurança, mesmo antes de sair da casa", observa Jairo. Ele acrescenta que é preciso se preparar muito bem para encontrar, lá fora, um mundo diferente do que deixou ao entrar no programa.
Além disso, quem fica mais tempo no BBB sabe que, ao sair, vai ser tratado de forma diferente por todo mundo. "Sem dúvida nenhuma, quando eles saírem, as primeiras semanas não serão fáceis; vão ter que se adaptar, triar as informações", comenta. Ainda mais levando em conta que é uma geração de brothers mais jovem e antenada.
Para Jairo, o programa mostra o quanto é fundamental aprender a se relacionar com pessoas que são diferentes da gente. "Esses que chegaram na reta final são os que, de alguma forma, conseguiram articular melhor com seu grupo e com o público aqui fora, essas questões de tolerância, de respeito ao outro, de não se omitir e dar opiniões, quando elas são importantes", diz. As "plantas", ou seja, os participantes que não se posicionaram muito, ou que não foram tolerantes, foram caindo fora.
Em um ano particularmente difícil, de Eleições, Jairo avalia que fica a lição de que não dá para deixar de ser amigo de alguém que você gosta só porque a pessoa vai votar no candidato X, Y ou Z. "Óbvio que a gente deve defender nossos pontos de vista, mas é um exercício importante de tolerância para que a gente seja um país melhor", avalia.
Para encerrar, Jairo pergunta por que será que restaram apenas candidatos masculinos na reta final do BBB. Para Luiza, a edição atual foi pautada pelo jogo. "Eu acho que Lina foi uma participante muito carismática, muito interessante, apesar de pouco jogadora", afirma.