Redação Publicado em 08/03/2021, às 12h30
Patrícia Parenza já foi modelo nos 1980 e início de década seguinte, acumulou mais de 25 anos de experiência como jornalista dedicada a temas femininos e, a partir de 2020 se lançou como comunicadora digital. Agora seu universo são as questões relacionadas às mulheres 45+.
Nesta live, Patrícia e Jairo Bouer falam de mudanças físicas, de comportamento e na vida sexual que ocorrem com a mulher devido à chegada da menopausa. Como o convidado é ele, as perguntas são de Patrícia.
Muitas mulheres afirmam que, com a menopausa, elas têm baixa de libido e isso está acabando com casamentos, paixões e muitos momentos importantes da vida. O que acontece com o corpo feminino com essa baixa de hormônio, essa baixa libido? Qual a razão disso?
Esse é um assunto muito importante. Há uma certa confusão quando se fala nesse assunto porque o que muitos chamam de menopausa, na verdade, é o período de climatério. Menopausa, por definição, é a última menstruação, da mesma forma que menarca é a primeira menstruação.
As mulheres nascem com um número limitado de células nos seus ovários, que vão se desenvolver ao longo de suas vidas para produzir óvulos, que possam eventualmente ser fecundados. As células germinativas produzidas pelos ovários têm um tempo de vida.
Em geral, as meninas têm sua primeira menstruação aos 13 ou 14 anos. Dessa forma, as mulheres têm em média de 35 a 45 anos de vida ativa desses ovários. Com o avançar da idade, os ovários começam a entrar em falência, chamada falência ovariana e, com isso, ocorre uma diminuição da produção de hormônios.
Esses hormônios produzidos nos ovários, que têm uma série de funções e ações na vida da mulher, deixam de circular em quantidades mais elevadas, o que vai fazer que apareça uma série de alterações e, entre elas, a diminuição do desejo, da libido, que é uma das marcações desse período. Mas é importante considerar que essa diminuição não se deve apenas à diminuição hormonal.
Hoje, as mulheres que estão nessa faixa entre 35 e 50 anos estão enfrentando outras situações também: as famílias estão reunidas muito mais tempo dentro de casa, vemos uma série de questões emocionais que estão permeando este momento que estamos vivendo. Estamos mais tristes, mais para baixo, mais ansiosos. Mesmo não tendo nenhuma depressão clínica, nenhum transtorno de ansiedade definido, não estamos 100%, há dias que estamos melhores e em outros nem tanto. Isso acaba tendo um impacto no desejo.
Por isso, se diz que a questão do desejo é multifatorial. Tem a questão hormonal, do social, ambiental, do relacionamento. Esse é um ponto importante, não é incomum que a mulher que está entrando na menopausa tenha um relacionamento de 20, 30 anos e esteja enfrentando algumas crises, além do impacto natural do tempo de relacionamento. A manutenção do desejo requer uma busca ativa, uma construção, mas, sim. tem a questão hormonal bem marcada.
“Claro”, concorda Patrícia. “A gente tem de fazer um exercício, pensar sobre isso, falar com o parceiro, falar sobre sexo com o parceiro ou parceira, porque são fundamentais nesse momento, para entender o que a gente está passando. É importante também a gente ver como estava o relacionamento antes da menopausa, porque não olhamos o marido de 20 anos [de casamento] da mesma maneira em relação ao desejo. É muito difícil que ele seja o mesmo. Eu costumo dizer que é preciso a gente ter uma mente sexy, um cérebro sexy, estimular o sexo na nossa cabeça para que isso venha para o nosso corpo, aflore na pele, nos sentidos, e para que a gente se conheça.
As mulheres da minha geração, e as mais velhas, passaram por uma repressão muito grande. Tudo era muito feio, se tocar, sentir prazer. Hoje elas usam botox, põem implantes de silicone, mas as partes íntimas não recebem a mesma dedicação. O que as mulheres podem fazer para se ajudar física e psicologicamente?
Para as mulheres dessa geração, a menopausa significava o fim da vida sexual. Era muito difícil alguma pensar diferente. Hoje as mulheres têm uma vida sexual ativa que vai facilmente até os 70, 75 anos. Então, primeiro é preciso mudar essa perspectiva do fim da vida sexual após a menopausa. Há mulheres que consideram esse período como o início de uma maior liberdade, por não haver mais o risco de gravidez, há um grau maior de maturidade, a experiência sexual pode ser melhor do que já foi.
Por outro lado, a menopausa gera uma questão de autoestima muito grande, pelas mudanças corporais, pela valorização social da juventude. Porém, é importante lembrar que hoje existem recursos que ajudam a lidar com a sexualidade, como a fisioterapia pélvica, por exemplo.
E quanto à reposição hormonal? Qual o hormônio que atua na libido? A testosterona?
A testosterona é um disparador do desejo, sim, e a mulher também o produz, mas em nível mais baixo. Com a chegada da menopausa, ocorre a diminuição hormonal, do estrógeno e da progesterona. A prolactina, relacionada à amamentação e ao apego com o recém-nascido, também provoca uma diminuição da libido.
No entanto, a questão da reposição hormonal, que deve ser discutida com o médico, não pode deixar de lado a qualidade de vida da mulher nessa fase. Dormir bem, saber lidar com o estresse, estar bem consigo mesma, com seu corpo e sua vida afetiva, tudo isso interfere no desejo, na libido.
Ficar sem transar depois de entrar na menopausa, além da secura vaginal e da falta de libido, pode levar à atrofia da parte genital?
Não exatamente, essas alterações corporais provocadas pela baixa hormonal podem levar a uma dificuldade maior de fazer sexo, mas se a mulher estiver tranquila e bem estimulada, a relação fica facilitada. Existem também hidratantes vaginais e lubrificantes sexuais para ajudar na eventual secura desse órgão.
Ficar sem transar durante muito tempo na menopausa pode levar a uma dificuldade na hora de ter esse tipo de experiência, devido à ansiedade e insegurança, que podem provocar falta de lubrificação adequada, de relaxamento, o torna o ato sexual mais difícil para a mulher.
A vida da mulher na menopausa não se resume a ela conviver e lidar com as mudanças hormonais e seus efeitos no corpo. Por isso, boa parte desse encontro foi dedicada a enfatizar o valor de a mulher se relacionar bem consigo mesma, cultivar hábitos que promovam sua saúde, seu bem-estar e, por conseguinte, seu desejo.
Estar aberta a novas experiências com seu corpo e com seu parceiro ou parceira, estabelecer um diálogo consigo mesma e com quem transa, vencer limites causados por repressão sexual e comportamental, libertar-se e viver essa nova fase como uma vida cheia de oportunidades e, sim, de prazer.
O que você acabou de ler foi apenas um recorte de uma conversa descontraída, franca e, por isso mesmo, muito interessante. Saiba mais assistindo: