Jairo Bouer conversou com a ginecologista Claudia Barbosa sobre o consumo precoce de álcool
Redação Publicado em 08/12/2021, às 10h00
Todo mundo sabe que, no Brasil, a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos é proibida. Essa restrição não existe à toa e foi imposta no sentido de proteger os jovens contra os padrões mais nocivos de consumo de álcool, como abuso e dependência.
Para conversar sobre os riscos de beber na adolescência, Jairo Bouer entrevistou Claudia Barbosa Salomão, ginecologista especialista em adolescentes. Durante o bate-papo, vários tópicos importantes foram levantados.
“Sim!”, foi a resposta quase que imediata da ginecologista. Segundo ela, esse é um dado da literatura mundial e o consumo de álcool cada vez mais precoce acontece tanto entre os meninos, quanto entre as meninas.
Jairo Bouer comentou que, antes, eram os garotos que começavam a beber mais cedo, em maior quantidade e frequência como forma de provar a masculinidade. Porém, atualmente, será que ainda existe essa distinção de gênero ou as garotas já estão bebendo de uma maneira muito semelhante?
Para Claudia, as meninas realmente aumentaram o consumo. Porém, parece que os meninos não estão tão preocupados com essa questão da masculinidade:
“Hoje existe mais respeito entre os adolescentes e, com isso, esses pontos relacionados à masculinidade estão tomando uma dimensão um pouco menor. Não acho que os meninos bebem por causa disso ou que esse seja o principal fator”, pontua.
Segundo a especialista, a masculinidade pode até induzir o consumo de álcool entre os meninos, mas não é o fator determinante. Existem diversas outras questões que influenciam, como o incentivo das famílias.
Existem estatísticas recentes que afirmam que grande parte dos adolescentes (cerca de 40%) começam a ter contato com bebidas alcoólicas dentro da própria casa.
Esses dados mostram que o hábito começa entre os 12 e 13 anos, e os pais, que acham que estão agindo no sentido de proteger os filhos, acabam contribuindo para a precocidade do uso do álcool e são, até mesmo, um fator de risco. Independente de o consumo ocorrer em um ambiente familiar, é álcool da mesma forma.
“Essa é uma questão a ser trabalhada com os pais. O adiamento da introdução do álcool é o fator mais importante, porque, de certa forma, as bebidas alcoólicas colocam o adolescente vulnerável a outras situações de risco”, alerta Claudia.
Confira:
Para Claudia, o álcool é uma porta de entrada para o uso de outras drogas psicoativas, ou seja, que interferem no funcionamento do sistema nervoso central. Além disso, bebidas alcoólicas estão diretamente vinculadas a outras questões de vulnerabilidade, como sexo sem proteção e acidentes automobilísticos.
Quanto mais cedo uma pessoa começa a consumir álcool, menores são seus recursos biológicos e emocionais disponíveis para lidar com esse hábito. É na adolescência que se passa por períodos de experimentação e uma porcentagem acaba virando vício.
“Quanto mais cedo um indivíduo usa qualquer tipo de droga, maiores são as chances de desenvolver o vício. Esse é um fator importante. Assim, quando pensamos em adiamento, estamos pensando em evitar os danos biológicos, minimizar situações de vulnerabilidade e as chances de se viciar em alguma droga, incluindo o álcool”, explica a ginecologista.
O Brasil é um país onde as pessoas bebem muito e, em algumas situações, o álcool passa por um “status de glamour”. Ou seja, existem famílias que acham bacana ter um adolescente de 15 anos bebendo.
Por isso, é tão importante que os familiares saibam do seu papel no adiamento do consumo de bebidas alcoólicas e que construam um canal de comunicação para conversar sobre esse assunto.
Assista também:
O consumo precoce é um fator de risco para a gravidez na adolescência? “Com certeza absoluta”, disse Claudia.
O álcool é uma questão importante de colaboração para o sexo ser exercido sem proteção. Ou seja, tem o esquecimento do uso do método contraceptivo – por exemplo, se a menina está sob efeito de álcool, ela deixa de tomar a pílula – e, além disso, a grande maioria das relações que ocorrem nessa situação são realizadas sem o uso do preservativo - trazendo o risco de gravidez e de infecções sexualmente transmissíveis (IST).
Vale lembrar que não é apenas o sexo desprotegido que é um problema, mas também os riscos de abuso sexual que ocorrem quando há álcool envolvido. A bebida alcoólica tira a menina da concentração das suas escolhas e sua capacidade de interpretação das situações de risco, tornando-a muito mais vulnerável à violência sexual.
Para os meninos essa também é uma mensagem importante. Sob o efeito do álcool, é possível perder a capacidade de interpretação, inclusive do desejo do outro.
“A adolescência é uma fase linda da vida justo por essa questão da aquisição da autonomia. Porém, ao mesmo tempo, temos que lembrar que é um período em que o adolescente será exposto a essas situações de risco. Assim, é muito importante conversar para que a gente chegue nessa fase com muita segurança e consiga lidar com mais tranquilidade”, comentou Claudia.
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