Uma reportagem recente do Jornal do Commercio, com dados da Secretaria Estadual da Saúde do Recife, mostrou que infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) foram diagnosticadas em 142 pessoas no Carnaval da cidade.
Mais de 1.300 pessoas fizeram testes rápidos e 125 foram reagentes para sífilis, o que representa uma taxa de 9,5% de positividade para a doença – é mais do que o dobro do que foi registrado no Carnaval do ano passado (4%) na cidade do Recife.
Esse recorte da capital pernambucana preocupa, e reforça como a sífilis se tornou a doença que mais cresceu entre as ISTs nos últimos anos em todo o país.
Outros resultados dos testes na cidade incluem: 10 para HIV, 4 para hepatite C e 3 para hepatite B. Lembrando que existe vacina contra hepatite B, e existe tratamentos para hepatite B, C, sífilis e HIV.
Para a prevenção das ISTs, camisinha é o método mais completo. No caso do HIV, você ainda tem a PrEP (profilaxia pré-exposição) e a PEP (profilaxia pós-exposição).
Para saber tudo sobre a prevenção dessas doenças é importante você consultar um profissional da saúde.
Este conteúdo é uma parceria com o JC.
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Causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) com variados sintomas clínicos, entre eles, manifestações dermatológicas.
Devido ao seu espectro clínico muito variável, a sífilis foi conhecida durante muitos anos como “a grande imitadora”. A capacidade de mimetizar outras doenças, causar lesões de pele de diferentes características e quadros neurológicos distintos fez e ainda faz com que seu diagnóstico clínico seja desafiador.
Para entender um pouco mais sobre essa condição, conheça quatro fatos importantes:
A sífilis pode ser classificada como primária, secundária, latente ou terciária. No estágio primário, ela geralmente se apresenta como uma pequena ferida no local de entrada da bactéria (pênis, vagina, colo uterino, ânus ou boca), que aparece alguns dias após o contágio. A ferida normalmente é indolor e desaparece sozinha depois de poucas semanas.
Quando a infecção não é tratada, a bactéria permanece no organismo e a doença evolui para os estágios de sífilis secundária (quando podem ocorrer manchas, pápulas e outras lesões no corpo, incluindo nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, além de febre, mal-estar, dor de cabeça e ínguas) ou então sífilis latente (fase assintomática, quando não aparece mais nenhum sinal ou sintoma).
Após o período de latência, que pode durar de dois a 40 anos, a doença evolui para a sífilis terciária, condição grave, que leva à disfunção de vários órgãos e pode causar a morte, apresentando lesões ulceradas na pele, além de complicações ósseas, cardiovasculares e neurológicas .
De acordo com os números analisados pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), entre janeiro de 2010 e junho de 2020, 468.759 homens foram diagnosticados com sífilis no Brasil. Segundo as informações do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, até 2020, a quantidade de homens contaminados era quase duas vezes maior do que a de mulheres. No mesmo ano, do total de casos de sífilis, 62,6% ocorreram entre a população masculina e 37,4% na feminina.
Sim, a sífilis é uma IST curável. Com o advento da penicilina, o cenário da condição mudou drasticamente. Até o surgimento desse antibiótico, a sífilis não tinha nenhum tratamento eficaz. Até hoje, a penicilina é o principal tratamento contra a doença, com altas taxas de cura. O uso desse antibiótico, associado à melhora do diagnóstico por testes laboratoriais, indica a cura da sífilis.
No entanto, o tratamento pode não desfazer qualquer dano que a infecção possa causar, como as complicações ósseas, cardiovasculares e neurológicas.
Ao contrário de algumas outras doenças, o indivíduo que curou-se de sífilis ainda pode reinfectar-se quantas vezes for possível durante a vida.
Vale lembrar que pode não ser tão óbvio que uma pessoa conviva com a sífilis. As feridas características da condição na vagina, no ânus, na boca ou sob o prepúcio do pênis podem ser difíceis de ver.
Assim, um indivíduo pode ser reinfectado caso seu parceiro ou parceira sexual não faça os testes e receba o tratamento adequado.
Dr. Jairo Bouer
Médico psiquiatra com formação na Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), biólogo pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), e mestre em evolução humana e comportamento pela University College London, além de palestrante e escritor. Twitter: @JairoBouerDr