Redação Publicado em 23/07/2021, às 17h00
Muitas mulheres vão atrás do sonho de morar fora do país ou viver um grande amor e acabam ficando reféns de gangues, são obrigadas a se tornarem profissionais do sexo ou, até mesmo, correm risco de vida, como é o caso do transplante de órgãos. Infelizmente, o tráfico humano ainda é uma prática frequente ao redor do mundo.
Jairo Bouer fez uma live com Danny Boggione, criadora do canal “Sobrevivendo na Turquia”, para falar um pouco mais sobre o tema. Ela, que dedica a vida a ajudar mulheres vítimas dessa prática, enfatizou a importância de nos educarmos sobre o assunto e desmistificar o tráfico humano:
“Para começar, o tráfico humano é o terceiro crime mais rentável do mundo, só perde para o tráfico de armas e o tráfico de drogas. Além disso, 85% do lucro provém da exploração sexual. Então, não é uma coisa que acontece de vez em quando, isso ocorre o tempo inteiro”, alertou.
Segundo Danny, um ponto a ser desmistificado está relacionado à ideia de que o tráfico humano é feito com pessoas acorrentadas em um frigorífico, que foram capturadas no meio da rua ou no aeroporto, colocadas em sacos e despejadas em um galpão.
“Existe abdução à força? Sim, existe, principalmente de crianças. Mas isso acontece em menor quantidade”, completou.
O modo operante do tráfico humano é conduzido por meio do aliciamento de pessoas e, depois disso, elas são “trancadas”. Ou seja, é em aplicativos para aprender idiomas, salas de jogos e sites de relacionamentos que os homens envolvidos com esse crime atuam.
Danny explica ainda que “o aliciamento vem disfarçado de relacionamento e a pessoa acredita. Se é uma menina que está em uma situação de vulnerabilidade, é mais fácil”.
Confira:
Durante a live, a criadora do “Sobrevivendo na Turquia” também relatou que compartilha história de diversas meninas vítimas do tráfico humano em seu canal para que a vida de outras que poderiam seguir pelo mesmo caminho seja preservada.
Como exemplo, ela contou a história da Bárbara, codinome dado a uma jovem gaúcha de 17 anos que acabou sendo traficada para a Bielorrússia e é um exemplo de como a vulnerabilidade pode ser uma oportunidade e tanto para quem pratica esse tipo de crime.
Bárbara perdeu o pai muito cedo e não tinha um relacionamento bom com a mãe que, por sua vez, já estava no seu terceiro casamento. Ela cresceu nesse ambiente de “vai e vem” e, após sofrer um abuso de seu padrasto dentro da própria casa, ela contou à mãe sobre o episódio, que disse à filha que ela estava mentindo.
“Para onde ela vai? Se a própria mãe não acreditou nela? Ela chegou em um ponto insustentável da sua vivência dentro de casa. O que ela fez? Foi para a internet, onde você pode extravasar e é, para muitas pessoas, uma maneira de se automedicar”, comentou Danny.
Foi online que Bárbara conheceu um homem que era traficante internacional de mulheres. Ele, vendo que ela estava extremamente vulnerável, começou a apoiá-la, dizendo que ele nunca a trataria assim e que o que estavam fazendo com ela era muito errado. Assim, quando completou 18 anos, Bárbara saiu de casa com suas próprias pernas para dentro do seu cárcere.
O que toda essa história nos ensina? Segundo Danny, é mais um exemplo de que o tráfico humano é, em grande parte, praticado por meio do aliciamento:
“Geralmente, elas próprias saem de dentro de casa. Tem que esquecer aquela coisa do filme, do saco na cabeça e do galpão. Não é assim, elas saem porque elas são aliciadas”.