Redação Publicado em 05/12/2022, às 10h00
Fim de ano costuma ser sinônimo de celebrações, e brindar com álcool faz parte da nossa cultura. Para discutir um pouco o impacto dessa tradição na vida e saúde das pessoas, o Dose de Responsabilidade traz uma série de entrevistas ao longo desta semana. No primeiro episódio, sobre o consumo de bebida entre os adolescentes, o psiquiatra Jairo Bouer entrevista a psicóloga Desirèe Cordeiro.
Afinal, por que os adolescentes querem tanto beber? Um dos motivos é que eles querem sentir mais velhos, e o comportamento do consumo de álcool é algo permitido para adultos. A influência do grupo é outro ponto que merece discussão: “Eles ficam diferentes e de um jeito que me exclui se eu não faço parte”, ilustra Desiree, simulando o pensamento dos jovens.
"Uma questão que me surpreende, quando vou buscar as estatísticas, é que, principalmente nos últimos anos, tem aumentado o abuso de álcool pelas meninas", comenta a psicóloga. Ela cita a PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar), feita em 2015 e 2019, que traz uma proporção de uso maior entre elas na faixa de 11 a 18 anos, de acordo com a aferição mais recente.
Para ela, esse aumento tem relação com uma mudança na comunicação do uso do álcool: a publicidade passa a direcionar mais o produto para o público feminino, as bebidas ficam mais coloridas, mais frutadas, o que também atrai mais as consumidoras.
"A gente fala muito de representatividade como algo positivo, mas tem uma representatividade que pode ser nociva", observa a especialista. Ver a mãe, a amiga ou a atriz da novela que bebem pode fazer com que muitas meninas passem a querer beber também.
O psiquiatra Jairo Bouer comenta que a pandemia intensificou o consumo de álcool, e isso também afetou os jovens de muitas formas. Eles passaram a beber mais dentro de casa, e passaram a ver muitos pais beberem mais.
Muitos adultos argumentam que, quando jovens, seus pais permitiam o consumo de um pouco de álcool em casa. "Mas hoje se sabe muito mais sobre o desenvolvimento cerebral e comportamental", pondera Desiree. E a ciência mostra, cada vez mais, que a ingestão de bebida nessa fase pode ter impactos importantes.
Desiree trabalha há muitos anos com jovens LGBTQIA+, população que também pode ser mais vulnerável ao uso de substâncias. Em primeiro lugar, porque existe a necessidade de se sentirem iguais aos pares, à medida que já se sentem diferentes pela questão da sexualidade.
Além disso, muitos jovens utilizam o álcool e outras substâncias como uma espécie de medicação para aliviar sensações negativas, para tentar adormecer a dor provocada pelo preconceito.
Para o adolescente, o imediatismo é algo muito presente – há uma necessidade de querer aliviar aquela frustração naquele momento. Junto com a urgência em se sentir bem, há uma dificuldade de se pensar nas consequências a longo prazo do consumo de álcool, que são muitas:
"O adolescente que começa a beber com 14 anos tem um risco quatro vezes maior de ter uma dependência alcoólica na fase adulta", ressalta Desiree.
Se o jovem começa a beber cedo, e há um aumento da expectativa de vida, é preciso considerar, ainda, que os impactos do consumo podem durar um período longo da vida do indivíduo. "Mas o adolescente não se imagina velho. Ele se imagina no máximo com 30 anos", lembra a psicóloga.
Mas existem, também, os riscos imediatos. O hábito de consumir grandes quantidades de álcool em uma só ocasião, conhecido como “binge drinking”, é uma tendência comum entre os jovens, e que também traz uma série de possíveis consequências indesejadas, como sexo sem proteção, acidentes de trânsito, brigas e violência sexual.
A psicóloga explica que os adolescentes hoje têm muita informação, mas nem tudo o que encontram na internet é confiável. Por isso, é função dos adultos falar das consequências, inclusive do risco de morrer por overdose de álcool, algo que não é raro, mas que nem todo mundo sabe que pode acontecer.
Para saber mais sobre consumo de bebida alcoólica antes dos 18 anos, confira o conteúdo do site https://nareal.org/.