Redação Publicado em 22/04/2021, às 15h58
Será que o homem atual está mais aberto a se reinventar? Essa foi a pergunta que pautou a live do Dr. Jairo Bouer com Helder Maldonado e Marco Bezzi, idealizadores do canal Galãs Feios, na última terça-feira (20).
Durante o bate-papo, que buscou debater sobre quais são os principais desafios do homem moderno, foram abordados temas como a questão do machismo em grupo até a representatividade dos homens no BBB21.
Para Bezzi, essa é a principal busca do homem comtemporâneo: ressignificar e entender melhor o seu papel na sociedade. Ou seja, compreender qual a sua função na prática – não apenas na teoria – no dia a dia, e saber qual o seu lugar, vivendo em comunidade.
“Se fossemos ter o papo que tínhamos na década de 1980 e 90, seríamos cancelados no mesmo momento. Apesar de ainda ter muitos amigos que agem como naquela época, existem tantos outros que estão participando dessa transformação e desconstrução. Em 2021 não dá mais para fazer piada machista, homofóbica, racista ou em qualquer outro nível de preconceito”, comentou.
Dr. Jairo ainda completou que é necessário se esforçar e fazer uma autocrítica: “Não temos a obrigação de saber sobre certas coisas porque viemos de uma criação extremamente machista, mas vale a pena olhar para dentro, perceber o que estamos fazendo e como podemos mudar”.
Quando os debates de sexualidade ganharam as páginas da grande imprensa – por volta dos anos 90 e 2000 – era considerado um assunto neutro e independente de posicionamento político. Entretanto, essa ideia foi rompida e, atualmente, o comportamento sexual vem acompanhado da política.
Hoje existem muitos grupos de direita e extrema direita que acabam espalhando agressividade nas redes sociais. Nesse contexto, aqueles que tentam desconstruir-se do machismo são taxados como "servos" que seguem regras absurdas.
Porém, esses comportamentos não estão, necessariamente, atrelados ao posicionamento político mais conservador. Isto é, os homens de esquerda também estão inseridos em grupos que não querem mudar e têm orgulho da maneira que são.
“A gente está falando de algo que está em todos os nichos da sociedade, ninguém está livre de ser machista ou reproduzir o machismo em vários momentos. A grande questão é que o machismo da extrema direita é organizado”, explicou Maldonado.
As pessoas são diversas e é inevitável que a grande parte dos homens reproduza muitas coisas absorvidas de seus pais durante a criação. Segundo Marco, isso realmente acontece, é algo difícil de superar, mas não pode ser utilizado como uma desculpa.
“Também não é desculpa ficar repetindo os erros, porque a gente tem informação em todos os lugares. Não é questão de “ah, eu não sabia”, hoje tem tantas formas de se comunicar e ter acesso ao conteúdo que não dá para reproduzir os mesmos movimentos da década de 1980 e 90”.
Às vezes, muitos homens passam a imagem de modernos e desconstruídos, mas, na hora que encontram os amigos – seja para assistir ao jogo de futebol ou em um churrasco, incorporam o “hétero primitivo” para se sentir pertencente ao grupo.
Para Maldonado, o macho em coletivo é complicado, não porque é algo necessariamente ruim, mas pelo fato de existir essa adequação do discurso dependendo do ambiente em que o homem está inserido. “Em uma reunião só com homens, por exemplo, um ou outro ali faz um comentário muito constrangedor e que, muitas vezes, aquele que nunca imaginamos que concordaria com determinada afirmação nos surpreende e permanece calado.”
Essa questão de precisar se agarrar em padrões antigos – que, muitas vezes, já tinham sido deixados para trás no intuito de ser aceito por um grupo – pode revelar alguma dificuldade com a autoestima e insegurança. Ou seja, há a ideia de que “eu preciso receber o aval e ser aceito e, para isso, vou na deles mesmo que eu não acredite ou concorde com a afirmação”.
De acordo com Dr. Jairo, essa conduta é desnecessária, visto que o mais importante é estar bem consigo mesmo, com a autoestima e seguro do seu papel: “A maior parte das pessoas acreditam que essa insegurança e baixa autoestima é coisa de adolescente, mas tem vários homens adultos que ficam a vida inteira buscando se agarrar em alguns pilares de sustentação dessa masculinidade”, completou.
Um dos momentos da live foi pautado pelo BBB21. Isso porque essa edição trouxe para o público representantes da masculinidade mais tradicional, alguns episódios de comentários homofóbicos e machistas ganharam as redes sociais e provocaram revolta de muitos brasileiros.
Para Bezzi, o homem que mais traduz a expectativa da mulher contemporânea é o Fiuk, que, antes de ser confinado, fez alguns cursos – como de racismo – para evitar possíveis erros de conduta e, consequentemente, não ser “cancelado” pela audiência do programa.
“O Fiuk trouxe a tentativa do discurso de reconciliação e desconstrução do homem. Mas eu também acho importante observar o Rodolffo e o Caio, por exemplo, porque são homens com quem a gente não convive na nossa bolha e não temos um contato diário. Essas pessoas existem de monte pelo Brasil”, pontuou Bezzi.
Além disso, Maldonado lembrou o fato dos participantes estarem vivendo em uma espécie de aquário, ou seja, estão o dia inteiro “à mostra”, sem filtro, e vulneráveis à edição que também é capaz de favorecer ou desfavorecer sua imagem.
“Acredito que o Arthur e o Caio, se não fossem tão vítimas de uma sociedade patriarcal, do machismo estrutural, da insegurança e da ideia de que o homem precisa mostrar que é o alfa e o viril, teriam oportunidade de aprender e melhorar. Eles até entendem determinados assuntos mas, ao mesmo tempo, por todo o contexto de criação, acabam reforçando o comportamento de virilidade.”
Um dos pontos levantados ao longo do bate-papo foi a dúvida em relação à sexualidade de homens que se relacionam com um amigo na “brotheragem” e se, por conta desse envolvimento, devem ser considerados heterossexuais ou não.
Para Marco, o grande problema, nesses casos, é a hipocrisia: "O homem pode pegar quem ele quiser, a questão é passar uma imagem para a mulher ou para a família mas, nas entrelinhas, sai com o amigo”.
Dr. Jairo explicou que, do ponto de vista da saúde, a classificação de “homens gays” ou “bissexuais” não é utilizada. Nesse caso, o termo usado é “homens que fazem sexo com homens”, representado pela sigla HSH.
O termo engloba várias classificações possíveis: homens gays que transam exclusivamente com homens, bissexuais (que mantém relações sexuais com pessoas do sexo masculino e femino), e aqueles que se consideram heterossexuais, mas que já tiveram, ou às vezes têm, experiências com outro homem.
Essa classificação é muito importante, porque se refere a um grupo amplo que pode estar se expondo a um determinado tipo de comportamento, risco (de doenças ou infecções), ou relacionamento.
Entretanto, há muitos anos os especialistas mostram que a questão das experiências sexuais se assemelha muito mais a um gráfico - com várias possibilidades no meio do caminho - do que com três caixas distantes e isoladas umas das outras.
Na verdade, o que existe é um contínuo, uma gradação. Há o indivíduo que nunca teve e nem quer ter uma experiência com alguém do mesmo sexo; em outro extremo tem aquele que só teve experiências com pessoas do mesmo sexo; e, no meio do caminho, há os bissexuais. No meio dessas definições há inúmeras alternativas.