“Doutor, quando exagero na bebida, além de me sentir mal no dia seguinte, fico muito ansiosa. O que está errado?”
Para começar, exagerar no consumo de bebida leva a pessoa a enfrentar a famosa “ressaca” no dia seguinte, uma velha conhecida que provoca sintomas como dor de cabeça, mal-estar, prostração, aversão à luz, dificuldade de atenção, entre outros.
Além dessas questões, de 10% a 12% das pessoas que consomem álcool em excesso podem apresentar, no dia seguinte, crises de ansiedade ou um aumento significativo desse sentimento. Mas por que isso acontece?
O álcool tem um potencial de diminuir a ansiedade e, por isso, muita gente ansiosa ou que está desconfortável com alguma emoção negativa tende a beber (especialmente em exagero).
Essa substância também é capaz de interferir nos neurotransmissores, responsáveis por manter a comunicação entre as células nervosas. De uma maneira geral (e bem simplificada), o álcool afeta um dos neurotransmissores envolvidos no relaxamento, chamados “gaba”, ou seja, ele aumenta a quantidade de gaba e traz essa sensação de relaxamento, de diminuição da ansiedade e das emoções negativas.
Por outro lado, o álcool também interfere em outro neurotransmissor chamado “glutamato”, que provoca uma certa excitação dos neurônios. Esse último tem sua produção bloqueada e, dessa forma, com níveis mais altos de gaba e mais baixos de glutamato, a pessoa tende a ficar mais calma e tranquila.
No dia seguinte, o organismo trabalha para tentar balancear novamente esses neurotransmissores, causando uma baixa no gaba (elevado no dia da bebida) e um aumento do glutamato (bloqueado pelo álcool).
Confira:
Assim, o que era para ser algo equilibrado, acaba gerando um desequilíbrio e mais excitação. Para algumas pessoas, essa “excitação química” pode desencadear, eventualmente, uma crise de ansiedade.
Outro aspecto importante a se considerar é que muita gente não sabe o que fez no dia anterior, sente desmoralização do ponto de vista do comportamento diante de algumas atitudes que teve ou tomou, e essa insegurança pode levar a um aumento da ansiedade.
São vários mecanismos que fazem com que algumas pessoas mais sensíveis tenham crises de ansiedade no dia da ressaca. Tudo isso mostra que o indivíduo não está bebendo bem, precisa repensar seus padrões de consumo e a sua relação com o álcool.
O mais importante é se conhecer, percebendo alterações no padrão junto com o consumo. Algumas situações características são:
Tudo isso pode sinalizar que você está passando ou já passou do ponto. Um problema adicional é que a bebida pode alterar nossa capacidade de avaliar o estado em que a gente realmente está – e esse pode ser um fator complicador.
Por isso, é importante saber como o próprio corpo se comporta com a ingestão do álcool e valorizar a opinião dos colegas, principalmente se esse erro de avaliação já aconteceu antes. E, se há mudança de comportamento, é melhor parar, ingerir alimentos e alguma bebida sem álcool, como água e sucos.
Milena Alvarez
Caiçara e jornalista de saúde há quatro anos. Tem interesse por assuntos relacionados a comportamento, saúde mental, saúde da mulher e maternidade. @milenaralvarez