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Câncer de mama além do outubro rosa: pessoas trans devem ficar alertas

Hormonização feminina é a responsável por aumentar o risco de câncer de mama entre mulheres trans - iStock
Hormonização feminina é a responsável por aumentar o risco de câncer de mama entre mulheres trans - iStock

Patricia Carvalho Silva Publicado em 19/11/2021, às 17h00

Terminou outubro, mês de conscientização sobre o rastreio do câncer de mama. Muito se falou sobre prevenção, autoexame e mamografia. Mas no fim, o quanto você, pessoa trans, entendeu que essa campanha era para VOCÊ? O quanto falamos, de fato, sobre as mamas não cis?

Como ginecologista que atende à comunidade LBT+, não pude deixar de perceber a falta de inclusão da nossa diversidade. E, por isso, de forma prática e objetiva, quero encabeçar a orientação para nossa população.

A pessoa trans deve e precisa ser orientada sobre sua forma de rastreio e quem são aquelas que têm maior ou menor risco de desenvolver essa doença.

O câncer de mama é a neoplasia que mais mata mulheres cis no Brasil e no mundo e, sabendo que a presença do hormônio feminino se relaciona como uma das principais causas da doença, as pessoas trans também podem ser acometidas.

Mulheres trans

Acredita-se que a hormonização feminina, com o uso de estrogênios, é a responsável por aumentar o risco de câncer de mama nessa população. Uma pesquisa realizada pela University Medical Center, em Amsterdã, revelou que as mulheres trans têm cerca de 47 vezes mais chances de desenvolver câncer de mama do que os homens cisgênero.

Ainda que possa parecer um grande aumento, vale lembrar que o câncer de mama em homens cis é bem raro (cerca de 1% do total dos diagnósticos). Uma vez que a mulher trans usa estrogênio e tem uma mama, essa mama passa a ter risco de câncer e, desta forma, ela precisa tomar os cuidados como toda mulher: autoexame, exame periódico e mamografia/ultrassonografia.

O sintoma mais comum de câncer de mama é o aparecimento de nódulo, geralmente indolor, duro e irregular, mas há tumores que são de consistência branda, globosos e bem definidos.

Outros sinais de câncer de mama são aparecimento de edema na pele, semelhante à casca de laranja, retração cutânea, dor, inversão do mamilo, hiperemia, descamação ou ulceração do mamilo.

Pode haver saída de secreção, especialmente quando é unilateral e espontânea. A secreção associada ao câncer geralmente é transparente, podendo ser rosada ou avermelhada devido à presença de glóbulos vermelhos. Podem surgir também linfonodos palpáveis na axila.

Confira:

Homens trans

Mesmo os homens trans que passam pela mastectomia não anulam por completo seu risco de câncer de mama, embora ele seja reduzido. A chance existe, principalmente se há uma mutação genética de alto risco para o carcinoma de mama. Apesar de mínimo, o risco residual ocorre, pois há tecido mamário em prolongamentos axilares e pode surgir o câncer no tecido preservado.

Para esses homens, o autoexame para detecção de alterações é incentivado, assim como consultas periódicas, se risco genético hereditário. A realização de mamografia fica tecnicamente prejudicada pelo escasso tecido mamário, mas a ultrassonografia pode ser realizada.

Já em homens trans não submetidos a mastectomia é recomendada a realização de exame clínico periódico e mamografia após os 40 anos de idade.

Em todos os casos, independentemente do gênero, a prevenção com acompanhamento médico, exames clínicos e o conhecimento do próprio corpo são essenciais para prevenir a doença.

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