Bruno Branquinho* Publicado em 23/12/2021, às 19h00
Chegando o fim de ano, Natal, Réveillon, época de confraternização, paz e amor.
Será? Será mesmo que essa ideia de que essa época do ano traz os melhores sentimentos e ajuda na conexão das pessoas é verdade? E para as pessoas LGBTQIAP+, isso também vale?
As festas de fim de ano podem realmente ser um momento de amor e celebração, envolvendo reuniões familiares festivas, troca de presentes, encontros de pessoas que se amam e que não se veem há bastante tempo. Mas isso não é necessariamente verdade pra todo mundo, aliás longe disso.
Para muitas pessoas, essa época pode ser um momento de muita tensão e estresse, trazendo à tona sentimentos difíceis de lidar, como tristeza, ansiedade e solidão. Nem toda família é a família de comercial de margarina – spoiler: nenhuma é – e ter que lidar com ambientes não tão acolhedores e relacionamentos familiares complicados pode ser fonte de bastante estresse.
Encontrar com familiares que não vemos há muito tempo também pode significar ter que responder a perguntas e expectativas com as quais nós não queremos lidar, e que muitas vezes nem são nossas: “Está namorando?”, “Vai prestar o concurso?”, “Já comprou apartamento?”, “A idade está chegando, não vai engravidar?”.
Além disso, há essa expectativa geral de que todos devemos estar felizes e em paz, passando esses momentos com nossos familiares, e isso nem sempre é possível ou desejável para todos, o que pode trazer uma sensação de exclusão e não-pertencimento para algumas pessoas. Afinal, quem disse que precisamos passar esses momentos com nossas famílias? Por que não podemos escolher viajar com amigos ou passar na nossa casa com quem quer que escolhamos? Ou mesmo sozinhos?
Quando falamos das pessoas LGBTQIAP+, isso pode ser ainda mais difícil.
Primeiro, porque, para muitas pessoas LGBTQIAP+, não há um lar para voltar ou uma família com quem passar esses momentos. Frequentemente, por conta de suas identidades sexuais, essas pessoas são expulsas de casa, ainda muito novas, especialmente quando falamos da população trans e travesti. Então, esse período do ano pode ser particularmente doloroso.
Além disso, mesmo quando há uma família, não é incomum que esta não aceite a pessoa LGBTQIAP+. Dessa forma, sobram duas possibilidades: ou a pessoa LGBTQIAP+ esconde parte de quem ela é, para evitar os conflitos, ou ela é alvo de diversas violências e ataques durante esse período. Como já diria o meme: A vida da pessoa LGBTQIAP+ não é fácil (não é fácil).
Confira:
É óbvio que no mundo ideal não haveria preconceitos e todas as famílias aceitariam as pessoas LGBTQIAP+, mas sabemos que essa (ainda) não é a realidade. Então, é importante que desconstruamos essa ideia de que só há um jeito de aproveitar/passar o fim de ano: com a nossa família de sangue.
Entre as pessoas LGBTQIAP+, é comum que o conceito de família se estenda a amigos próximos, parcerias amorosas e pessoas da comunidade que acompanham essas pessoas no seu dia-a-dia, justamente pelo alto índice de rejeição por parte da família biológica.
Dessa forma, para todos, talvez seja interessante que possamos pensar em passar os períodos de festas com pessoas que realmente nos respeitem, com quem nos sintamos à vontade e que queiram nosso bem. Muitas vezes os sentimentos negativos trazidos por essa época do ano vêm de idéias e expectativas difundidas na sociedade, mas que podem ser mudadas, não são necessariamente verdades.
Já passou da hora de questionarmos essas imposições e ideias que não nos fazem bem.
Então é Natal, e o que você fez? Ou melhor, o que vai fazer?