Patrícia Carvalho Publicado em 15/03/2022, às 14h30
No dia 8 de março comemorou-se mundialmente o Dia da Mulher. Não sei se você reparou, mas nesse dia também pipocam muitas manifestações com demandas femininas, lutas travadas há décadas por liberdade e justiça para a vida de mulheres cis. Longe de querer deslegitimar essas questões, que são reais e também minhas. Mas, se o motivo da celebração é dar foco para necessidades suprimidas desde que o mundo é mundo, essa luz está sendo jogada para todas as mulheres de fato? Se você minimamente conhece a realidade de qualquer mulher transgênero, vai responder rapidamente que não.
As necessidades e existência dessas pessoas é ainda tão invisibilizada que, mesmo no dia de relembrar dores de uma minoria (porque existir como mulher e ser valorizada como tal, é, sim, uma minoria numa sociedade falocêntrica), passa como se não existisse.
E, para além da invisibilidade dessas necessidades, está a diminuição do entendimento do que é ser mulher nesse mundo: ter uma vulva, uma vagina, vestir roupas femininas, cruzar as pernas e falar de jeito doce. Ou não é verdade que se alguém não cumpre um desses pré requisitos, em algum momento, vai receber um rótulo de que é masculina demais. Seja essa mulher cis ou trans, hétero ou não, inclusive.
Acredito que a luta por espaço e resistência de toda mulher deveria passar por um caminho congruente, interseccional. Não tenho dúvidas e defendo um espaço, um dia único para manifestação e elevação dos direitos, demandas e valorização da mulher trans. Ela tem dores e necessidades que nunca vamos conseguir pleitear com legitimidade como mulheres cis. E digo mais, é vítima de transfobia também entre nós e pelo movimento feminista.
Mas também acredito que o Dia Internacional da Mulher deveria, sim, elevar a consciência de que ser mulher não é só expressar características preconcebidas e ter entre as pernas uma genitália identificada como feminina.
O transfeminismo é um campo de luta e diálogo entre as necessidades e questões das diversas representações do movimento feminista: mulheres trans, negras, lésbicas, socialistas, ecofeministas... Deixando claro as demandas femininas como corpo social plural.