Entre 2017 e 2018, de acordo com o Ministério da Saúde, os casos cresceram 28,3%
Pedro Campana* Publicado em 05/10/2021, às 10h00
A sífilis no Brasil continua sendo um grande problema de saúde pública. Entre 2017 e 2018, de acordo com o Ministério da Saúde, os casos cresceram 28,3%. Além disso, em 2018 houve 158 mil casos de sífilis notificados. É importante notar que, na maiorida dos casos de sífilis, os homens ainda são os mais acometidos.
Devido ao seu espectro clínico muito variável, a sífilis foi conhecida durante muitos anos como “a grande imitadora”. A capacidade de mimetizar outras doenças, causar lesões de pele de diferentes características e fazer quadros neurológicos variáveis fez e ainda faz com que seu diagnóstico clínico seja desafiador.
Com o advento da penicilina, o cenário da sífilis mudou drasticamente. Até o surgimento desse antibiótico, a sífilis não tinha nenhum tratamento eficaz. A penicilina até hoje é o principal tratamento contra a doença, com taxas altas taxas de cura. O uso desse antibiótico, associado a melhora do diagnóstico por testes laboratoriais, indica a cura da sífilis. Entretanto, ao contrário de algumas outras doenças, o indíviduo que curou-se de sífilis ainda pode reinfectar-se quantas vezes for possível durante sua vida.
O diagnóstico de sífilis, embora fácil do ponto de vista de exames de laboratório, é clinicamente desafiador. A doença tem 3 fases: sífilis primária ou cancro duro, sífilis secundária e sífilis terciária.
A primeira geralmente oorre exatamente no local por onde a bactéria entrou. É caracterizada por uma úlcera indolor e que, dentro de alguns dias, some sem deixar cicatriz. Nessa fase, muitas vezes a pessoa que está com a lesão não percebe, pois ela é indolor. Já a sífilis secundária ocorre aproximadamente 2 a 3 meses após a fase primária. Nessa fase, as lesões de pele se tornam mais evidentes, com manchas avermelhadas na pele, que podem descamar, e que podem atingir palmas e solas. Além disso, pode-se ter acometimento da mucosa da boca. A última fase é pouco vista atualmente e ocorre anos ou décadas após a infecção primária. A sífilis terciária caracteriza-se por lesões de pele chamadas gomas sifilíticas, que causam destruição da pele e muita dor. Essas lesões podem acometer outros órgãos.
Muitas vezes, devido a longos períodos de latência sem manifestações clínicas, o diagnóstico é feito através de triagem para ISTs ou durante o pré-natal em pessoas assintomáticas. A característica benigna e transitória do cancro duro faz com que essas pessoas não procurem o serviço médico, muitas vezes por não terem dor ou nem notarem. De qualquer modo, essas pessoas transmitem a doença.
Confira:
É importante lembrar que a sífilis, não é prevenível com 100% de efetividade com uso de preservativo. As lesões primárias e secundárias têm nelas muitas bactérias causadoras de sífilis. Caso haja contato dessas lesões com um machucado na pele ou genital da parceira ou parceiro, a infecção pode ocorrer. Então preliminares, bem como sexo oral (caso haja lesão na boca e o genital também apresente alguma lesão ativa de sífilis), podem transmitir a doença.
Prevenir e tratar sífilis, assim como outras IST, é crucial para diminuir as taxas de HIV, que tem maior facilidade de infecção em concomitância com a sífilis. Além disso, para prevenir a passagem de sífilis de mãe para filho no caso das gestantes. Entender os sinais e sintomas, trabalhar com educação em saúde e facilitar acesso ao sistema de saúde com certeza contribuirão para a melhora nos índices se sífilis em nosso país.
* Pedro Campana é infectologista
Esta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo
Veja também:
Saúde LGBTQIA+: somos todos iguais?
“Já tive sífilis e meu parceiro tem HIV; ele corre algum risco?”
Teste de HIV e outra ISTs: tudo bem pedir para o parceiro?
Tive sífilis e tratei; posso pegar de novo?