O estudo já foi iniciado e os testes da vacina abertos no Brasil para homens cis gays, bissexuais e pessoas transgêneras
Pedro Campana Publicado em 19/07/2021, às 13h49
Em 2021, a pandemia de HIV/aids completou 40 anos. Desde o surgimento do vírus, avanços em acesso ao diagnóstico e ao tratamento foram bastante evidentes. No entanto, ainda temos, de acordo com relatório da UNAIDS de 2020, taxas de diagnóstico, tratamento e prevenção abaixo do acordado na Conferência de Paris, em 2015.
O tratamento, no entanto, está evoluindo. Temos em desenvolvimento uma vacina que pode trazer uma possibilidade real de mudança no cenário epidemiológico do HIV. Neste artigo, vou explicar como funciona o estudo e os possíveis cenários para quem pretende participar.
É muito importante lembrar que o acesso ao diagnóstico precoce, com desenvolvimento de novas tecnologias, como testagem rápida e possibilidade de venda de testes de farmácia, aumentou muito o diagnóstico da infecção pelo HIV. Isso é importante, pois, uma vez diagnosticadas, as pessoas entram em tratamento até tornarem-se indetectáveis, quebrando assim a cadeia de transmissão.
O advento das drogas antirretrovirais, mais pronunciadas a partir dos anos 90 e com bastantes novidades no início dos anos 2000, trouxe uma perspectiva de redução do número de casos de aids no mundo. Esse avanço mudou drasticamente a história natural do HIV/aids, possibilitando pessoas apenas portadoras do vírus e livres de doenças.
Além desses pilares extremamente importantes na história do HIV/aids, temos nos últimos cinco anos um avanço exponencial no que se refere à prevenção. Já temos certo êxito em diagnosticar a infecção, tratá-la e evitar adoecimento. O desafio, nesse momento, é evitar a transmissão do vírus, agindo fortemente no âmbito da prevenção. Nesse contexto, a prevenção combinada, que entende que vários métodos preventivos são mais eficazes que um, veio para mudar a curva de novas infecções pelo HIV. Ainda assim, o controle da pandemia ainda é insatisfatório.
Nesse sentido, é urgente algum método preventivo mais eficaz, com distribuição em massas e que seja seguro. Seguindo o exemplo de outras doenças, inclusive da Covid-19, a vacina vem como uma possibilidade real de mudança no cenário epidemiológico do HIV. Por isso, um estudo chamado Mosaico vem sendo conduzido em nosso país para avaliar a eficácia de uma vacina contra o HIV.
Trata-se de um estudo de fase 3, a partir de uma vacina desenvolvida pela Universidade de Harvard. Em estudo com macacos, a vacina demonstrou proteção de 67%, o que é um resultado bastante animador. Dessa forma, a condução desse estudo em humanos foi iniciada.
O estudo está aberto para homens cis gays e bissexuais, bem como pessoas transgêneras com maior vulnerabilidade para aquisição do vírus. É importante ressaltar que os participantes devem ter entre 18 e 60 anos e, como se trata de uma vacina preventiva, as pessoas não podem viver com HIV. Espera-se incluir nessa fase do estudo 3.800 participantes.
Durante o estudo, quatro doses da vacina ou do placebo serão aplicadas, com seguimento regular com a equipe de pesquisa e testagens regulares por dois anos.
O estudo é conduzido em algumas cidades do Brasil. Em São Paulo, os centros de inclusão são o Hospital das Clínicas da FMUSP, o Instituto de Infectologia Emílio Ribas e o CRT Santa Cruz. Em Curitiba, no Centro Médico São Francisco. Já no Rio de Janeiro, o centro responsável é a FioCruz. Em Belo Horizonte, a Universidade Federal de Minas Gerais recrutará participantes. Na região Norte, Manaus incluirá participantes através da Fundação de Medicina Tropical.
Se você tem vontade de participar desse estudo, procure um desses centros na sua cidade e informe-se sobre o cadastro. A possibilidade de uma vacina contra o HIV vislumbra um futuro melhor para todes, com possibilidade de superação de uma pandemia que nos assola há tanto tempo. Vamos nessa?
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