Desirèe Cordeiro Publicado em 23/02/2021, às 11h00
Hoje vamos falar sobre algumas coisas que as pessoas geralmente confundem bastante: sexo e gênero são as mesmas coisas? Quando falamos de expressão de gênero queremos dizer o quê? E o que é orientação sexual?
Esse desenho acima é muito comum quando queremos explicar as diferenças entre identidade de gênero, expressão de gênero, sexo biológico e orientação sexual. É o famoso vamos desenhar para entender!
A versão original pode ser achada facilmente no site www.genderbread.org, lá tem algumas versões para quem quiser baixar e usar. Porém não existe uma versão oficial em português, então iremos adaptar livremente a nossa língua para diminuir as confusões sobre esse tema.
O "Genderbread Person" é uma brincadeira que vem de uma forma muito comum na cultura norte-americana, o "gingerbread man", um "homem de pão de gengibre". A figura do "Genderbread Person", então, seria uma "pessoa pão de gênero ou pão sexual". Isso porque, na nossa língua, quando traduzimos a palavra "gender", ela pode ser entendida como sexo ou gênero, e aí já começa uma dificuldade.
No senso comum, o sexo (sexo anatômico) é um rótulo que o médico nos dá ao nascer, de acordo com uma série de fatores fisiológicos como a genitália, os hormônios e os cromossomos que carregamos. E, com isso, a maioria das pessoas recebe o gênero masculino ou feminino, e é isso que geralmente aparece na certidão de nascimento.
O gênero pode ser considerado mais complexo do que o sexo. Quando falamos de gênero, além da expressão biológica do determinado geneticamente, temos diversos outros elementos associados, que incluem a cultura e o social das manifestações. Assim, o gênero muitas vezes está associado a muitas expectativas de como devemos nos portar, pensar, ser. Tudo isso de acordo com o sexo anatômico (gênero atribuído/ reconhecido ao nascimento).
Mas vamos voltar ao “Genderbread Person”.
No desenho a identidade de gênero é representada no cérebro do boneco; isso porque essa é uma característica definida por quem pensamos que somos, por como nos sentimos, nos identificamos. Está relacionada ao quanto nos alinhamos ou não com o gênero atribuído ao nascimento. Podendo ser homem, mulher ou “genderqueer” (ou gênero não-binário), alguém sem gênero definido ou que assume um ou outro gênero conforme as próprias percepções, intermediárias ou até mesmo fora dois polos.
Quando uma pessoa experimenta uma congruência entre gênero designado ao nascimento e identidade de gênero, a chamamos de cisgênero.
Quando o gênero designado ao nascimento e a identidade de gênero não são congruentes, a pessoa é chamada de transgênero.
Quando uma pessoa não se sente pertencente ao gênero designado ao nascimento e a uma identidade de gênero, chamamos de não-binário.
No desenho a expressão de gênero é representada pelo corpo como um todo, isso porque tem a ver com o modo como nossa aparência, como expressamos como somos e nos identificamos. Ou seja, tem a ver com nossas vestimentas, assessórios, estilo de cabelo, formas de falar, linguagem corporal e quaisquer outros aspectos de expressão culturalmente reconhecidos como femininos, masculinos e andróginos (características, traços ou comportamento imprecisos, entre masculino e feminino).
Essa expressão é interpretada pelos outros através da cultura, assim pode ser vista cheia de verdades individualizadas do que é ser homem ou mulher, preconceito. Hoje em dia temos uma variedade tão grande de expressões de gênero, que seria melhor não definirmos ninguém pelo que vemos através de nossas referências. Podemos começar pensando que a expressão de gênero é sempre individualizada, e com isso cada um tem a sua! Não é necessário colocar em padrões que podem ser reducionistas.
Ele é representado pelo símbolo masculino, feminino ou intersexo.
Ele se refere exclusivamente aos órgãos genitais, hormônios e cromossomos sexuais (X, Y) com os quais nascemos.
Na definição cromossômica teríamos: Mulher – XX, homem – XY e intersexo – XXY, XXXY, XXYY, XX com genes masculinizantes (gene SRY) ou XY sem os genes masculinizantes. Ou seja, pode ser representado por um conjunto de variações genéticas relacionadas a expressão e/ou quantidades de cromossomos sexuais.
No desenho, a orientação sexual é representada pelo coração, para remeter a relação com atração afetiva/sexual.
Está relacionada a características das pessoas por quem nos sentimos atraídos, por quem nos interessamos de maneira romântica e/ou sexual.
As orientações mais reconhecidas são:
Heterossexual – quando temos interesse por alguém que tem o gênero de polo oposto ao nosso.
Homossexual – quando temos interesse por alguém que tem o gênero do mesmo polo que o nosso.
Bissexual– quando nosso interesse pode variar entre alguém que tem o gênero de polo diferente do nosso ou do mesmo polo que o nosso.
Pansexual – quando nosso interesse não tem relação com o gênero, expressão, ou orientação, e sim com a pessoa, independentemente de tudo isso.
Esse desenho serve para mostrarmos que estas características podem se relacionar entre si, mas não são interligadas; são todas independentes umas das outras. A orientação sexual não determina ou é determinada pela identidade ou expressão de gênero. A identidade de gênero ou expressão não é determinada pelo sexo anatômico.
Escolhemos desenhar porque tudo isso parece simples de explicar, mas é muito complexo para compreender. A principal questão é manter a mente sempre aberta para a pessoa que está na sua frente, sem colocá-la em estereótipos e caixinhas. Somente a própria pessoa pode nos dizer quem ela é.