Neste período crítico da vida, tudo fica mais delicado, pois vem acompanhado de medos e crenças
Desirèe Cordeiro Publicado em 28/06/2021, às 10h37
No Dia do Orgulho LGBTQIA+, nada mais justo do que falar de um tema tão delicado quando se assumir. Conseguir dizer para todos o que é e como sente. Mas sabemos do medo que isso pode gerar nas pessoas que são LGBTQIA+, pois, infelizmente, ainda temos muitas pessoas que discriminam e desrespeitam as minorias, e isso às torna mais vulneráveis.
Esse meu texto foi atualizado de uma versão que fiz há mais de 15 anos, mas ainda muito atual! Espero que ele consiga sensibilizar as pessoas que convivem com pessoas LGBTQIA+ e as próprias pessoas da comunidade, que muitas vezes se isolam e se escondem por medo!
O termo “sair do armário” tem sido cada vez mais utilizado, ganhando novas conotações. Até então era utilizado com referência a homossexuais, que assumiam a sua orientação sexual. Atualmente, seu significado pode ser estendido para a ideia de assumir qualquer coisa que não era assumida até então. Ou seja, é o ato de tornar o que é íntimo/privado, em algo público.
A adolescência é uma época com muitas "saídas do armário", pois é na adolescência que começamos a definir as coisas que nos interessam ou não. É o momento em que as escolhas e os desejos começam a se tornar mais evidentes e duradouros. Não é à toa que este é um período crítico na vida de qualquer pessoa. Afinal de contas, não é fácil decidir por muitas coisas ao mesmo tempo, nem mesmo assumi-las, e ainda se sentir diferente de todo resto. E nem estamos falando de sexualidade neste momento, somente escolhas mais gerais do cotidiano.
Quando a questão é a sexualidade na adolescência tudo fica mais delicado, pois vem acompanhado de medos e crenças. Independente da orientação sexual as dúvidas quanto à sexualidade sempre estão presentes: se deve ficar com essa ou aquela pessoa; se deve transar ou não, e com quem; de quem gosta; e daí por diante. Essas questões são comuns a todos aqueles que entram em contato com sua sexualidade, não somente durante a adolescência, mas durante toda a vida.
Esse assunto, apesar de toda a modernização da sociedade atual, ainda é tratado como tabu. "Sair do armário" no que se refere à orientação sexual, ou seja, assumir uma orientação homossexual e/ou bissexual e/ou pansexual, é muito amedrontador em qualquer idade, por sentir-se diferente de uma maioria que seria heterossexual. Esta "saída do armário" vem permeada de uma grande quantidade de sentimentos, como preconceito, confusão de identidade, medos, culpa, vergonha, conflitos internos, enfim, manifestações variadas.
Na adolescência estes sentimentos ficam mais nebulosos, ainda mais confusos. A sensação é de que eles são maiores do que parecem, como se o mundo girasse em torno do fato de ser ou não homossexual, ou ser ou não diferente de um padrão heteronormativo.
Assumir sua orientação sexual é de fato algo grandioso. Primeiramente, é preciso se auto-aceitar e ter claro como se sente em relação à sua orientação, ao seu desejo.
Na adolescência tudo o que é relativo à sexualidade é novo, e tratando-se de orientação sexual é mais novo ainda. Quando isso se torna mais claro, a vontade de se revelar vem com força maior, porém o medo ainda é grande. Esse temor está relacionado com o ambiente em que este adolescente está inserido, como ele imagina que seus pais, familiares e amigos reagirão.
A ideia é “sair do armário” se assumindo aos poucos, podendo ser seletivo através da escolha de pessoas mais próximas, afetivamente, para quem contar. Tudo isso é uma forma de fortalecimento para que o adolescente possa revelar sua orientação sexual a seus pais. O ideal, neste momento, é ter clareza de que a sexualidade faz parte do ser humano. A variação do objeto de desejo, independente da orientação sexual, é inerente ao ser humano.
Por este motivo, é muito importante olhar para o modo como as escolhas estão sendo feitas, entender e organizar os sentimentos, rever seus valores, e, de certa forma, "arrumar este armário". Lembrando que a única pessoa que, de fato, consegue ver dentro de seu próprio armário é você mesmo.
O fortalecimento e a segurança são coisas que vem de dentro (íntimo) e vão para fora (social) “do armário”. As reações da família do adolescente podem ser inúmeras, não podendo ser previstas.
É muito importante lembrar que a pessoa que se assume teve um tempo para amadurecer a ideia, e quem está recebendo essa notícia também pode precisar deste tempo, que varia de pessoa para pessoa. Outro fator importante é saber quando é o momento de "sair do armário". Deve haver certo planejamento, para que ocorra da forma mais tranquila possível. “Sair” em um momento de crise/briga é muito complicado. A maneira como contar precisa ser pensada, mesmo que não se possa prever reações. Fica difícil falar quando não pensamos antes, ainda mais quando se trata de algo tão íntimo e difícil de assumir, ainda mais no início.
Os amigos, homossexuais, ou não, são importantes no momento de se assumir. É fundamental que se tenha consciência de quem o aceita ou não, e, principalmente, em quem se pode confiar. Esconder demais pode ser perigoso, pois se descoberto, o adolescente ainda terá que lidar com a falta de confiança dos pais, o que pode prejudicar ainda mais a relação. Portanto, o que poderia ser difícil, se tornaria um desafio maior ainda. Nesse momento de decisão e revelação sobre o melhor momento de “sair do armário”, o ideal é que se busque ajuda profissional, que pode vir através de psicólogos, psiquiatras e ONGs que tratem do assunto.
O importante neste momento é sentir-se feliz e livre para ser quem se é!
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Esta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo
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