Documentário, que estreia ano que vem, aborda evolução do tratamento da Aids no Brasil e o que ainda falta mudar
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h50 - Atualizado às 23h53
A evolução no tratamento da Aids no país e a estagnação no que se refere ao preconceito são temas do projeto “Olhares HIV e Aids”, que inclui um documentário, uma série de TV e um livro criados pelo produtor, diretor e roteirista André Canto. O primeiro tem estreia prevista para o ano que vem, e traz entrevistas de pessoas que vivem com o vírus, especialistas, personalidades e autoridades, como a jornalista Marina Person, Lucinha Araújo (mãe de Cazuza), Wanessa Camargo e os ex-ministros da Saúde José Serra e José Gomes Temporão, entre outros.
Ao blog, André Canto conta qual foi sua motivação para o projeto:
“A Aids foi durante anos um grande tabu para mim, a descoberta da minha sexualidade foi estruturada no medo, na certeza de que um dia eu seria infectado por essa doença, pelo simples fato de ser gay.
Esse medo foi tão grande, tão avassalador, que passei grande parte da minha vida tendo uma visão estigmatizada do vírus e da doença. Somente no ano passado, depois de muitas sessões de análise, me dei conta do quanto isso me fazia mal! Primeira coisa que fiz foi me forçar a buscar informações, digo “me forçar” por que tive que me forçar de verdade, o medo muitas vezes não me deixava passar do primeiro parágrafo de um texto, não me deixava assistir ao primeiro minuto de um vídeo sobre o assunto.
Nesse primeiro mergulho, depois de muita pesquisa e estudo, percebi que eu era um completo imbecil, sim, imbecil! Me percebi cheio de preconceitos e completamente desinformado.
Foi a informação que me ajudou a iniciar o processo de desconstrução do meu medo, não foi fácil, mesmo lendo, checando cada conceito, facilmente me via duvidando do que estava cientificamente comprovado. Percebi que ao falar de HIV e Aids, 2+2 não era necessariamente igual a 4 para mim. Fui percebendo o quanto esse medo que senti a vida toda estava no controle. Foi um longo processo até conseguir resignificar uma vida inteira de preconceitos.”
A realidade vivida pelo roteirista está longe de ser incomum. Assim como a informação foi seu ponto de virada, ela é a única maneira de mudar a história da infecção no Brasil. A epidemia já tem mais de 30 anos, mas o preconceito e o medo ainda são os principais obstáculos para a prevenção. O número de novas infecções por HIV ainda é alto, e tem crescido entre os mais jovens, por isso levar o tema à mídia é sempre importante. Valeu, André.