Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h56 - Atualizado em 23/10/2020, às 18h44
Seja por falta de controle ou por convicção dos pais, não são poucas as crianças que, de vez em quando, levam uma palmada ou um beliscão no braço, para não falar em agressões piores. Até especialistas em educação infantil já foram a favor dos castigos físicos como forma de disciplina. Mas a ciência é dinâmica e um número cada vez maior de estudos vêm mostrando que a medida não só é uma estratégia pouco eficaz para educar, como pode causar dano ao comportamento e até à saúde dos jovens mais tarde.
Nesta semana, a Academia Americana de Pediatria, que reúne mais de 67 mil especialistas, divulgou uma declaração para alertar pais e cuidadores sobre os riscos da punição física. Até então, a sociedade médica apenas desencorajava o uso de tapas ou surras como forma de disciplina, em um documento lançado em 1998.
Pesquisas publicadas nos últimos 20 anos fizeram a entidade se convencer da necessidade de um posicionamento mais enfático contra as surras. A nova política será detalhada na edição de dezembro do periódico Pediatrics, de acordo com o jornal americano The New York Times.
Diversos estudos associaram os castigos na infância a aumento de agressividade e à tendência aos jovens se tornarem ainda mais provocadores. O avanço da neurociência também trouxe dados preocupantes, como a indicação de que punições físicas frequentes podem causar alterações no volume do cérebro, em áreas ligadas ao aprendizado e à tomada de decisões. Também há evidências de que a medida resulta em menores coeficientes de inteligência (QI).
Um trabalho recente ainda mostrou que jovens que apanharam na infância são mais propensos a agredir fisicamente seus parceiros íntimos – é como se as crianças aprendessem com os pais que tudo bem bater em quem se ama, e que essa é uma forma válida de se lidar com os problemas na vida adulta. Até mesmo abusos verbais já foram associados a problemas de ansiedade e depressão na adolescência.
Muita gente costuma dizer que levava boas palmadas da mãe e que não teve nenhum problema por isso, ou que os jovens de hoje são mais folgados ou problemáticos porque deixaram de apanhar na infância. Há até quem se recuse a discutir o assunto, por achar que ninguém de fora deve opinar na educação dos filhos. Com as novas recomendações médicas, talvez essas pessoas pensem melhor. Há outras formas de se impor limites que não envolvem humilhar ou bater na criança.