Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h49 - Atualizado às 23h53
Indivíduos que usam cocaína na adolescência sofrem mais com deficits de atenção e aprendizado que aqueles que iniciam o uso a partir dos 18 anos. Neurocientistas já suspeitavam disso, mas, agora, a hipótese foi confirmada num estudo feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
A equipe comparou dois grupos de usuários de cocaína com 50 indivíduos cada. O primeiro era formado por pessoas que tinham começado a usar a droga na adolescência e o segundo, após os 18 anos.
Os pesquisadores encontraram diferenças pronunciadas entre os dois grupos, principalmente no que diz respeito a determinadas funções cerebrais, como atenção prolongada (importante quando precisamos completar tarefas longas), memória de trabalho (de curto prazo, que usamos no dia a dia) e memória declarativa (de longo prazo e que pode ser declarada, como lembrar datas importantes ou acontecimentos passados).
Eles também descobriram que entre os usuários que começaram na adolescência o consumo concomitante de maconha e álcool foi entre 50 e 30% mais frequente, respectivamente, em comparação com os que começaram mais tarde. A pesquisa foi financiada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e os dados, publicados no periódico Addictive Behaviors.
Os neurocientistas hoje sabem que a adolescência é uma das fase mais importantes para o desenvolvimento do cérebro. É nessa fase que certas estruturas, ligadas à comunicação entre os neurônios, são refinadas. Por isso é tão importante adiar ao máximo o uso de drogas: além de ser pra sempre, o prejuízo é maior.