Os pais devem ficar atentos se, de repente, o filho deixar de realizar atividades rotineiras por causa do incômodo nas articulações
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h49 - Atualizado às 23h53
Muita gente não sabe, mas crianças pequenas e adolescentes podem sofrer com reumatismo – o conjunto de doenças inflamatórias que causam dores, calor e inchaço nas articulações e, eventualmente, em outras partes do corpo. A mais comum delas é a artrite idiopática juvenil. Assim como nos adultos que têm artrite reumatoide, a inflamação articular é a característica principal, embora em alguns casos a dor seja mínima. Os pais devem ficar atentos se, de repente, o filho deixar de realizar atividades rotineiras por causa do incômodo, e até deixar de se alimentar.
Existem três tipos principais de apresentação dos sintomas: na artrite idiopática juvenil oligoarticular, são acometidas até quatro articulações, sendo joelhos e tornozelos as mais frequentes. Nesses casos, também é comum os pacientes terem uveíte, uma inflamação nos olhos que exige avaliações oftalmológicas regulares. No tipo poliarticular, cinco ou mais articulações são afetadas e pode haver febres ocasionais. Já no tipo sistêmico, a febre é alta, com um ou dois picos diários, e ainda pode ocorrer dor no peito, dificuldade para respirar, aumento do fígado e do baço.
Estima-se que cerca de uma criança a cada 2.000 seja afetada pela artrite idiopática juvenil em todo o mundo, embora essa prevalência varie muito entre as populações. “Uma pesquisa recente, ainda não publicada, indica cerca de um caso a cada 860 crianças em São Paulo”, conta o reumatologista pediátrico Claudio Len, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Em outras palavras, a doença não é tão frequente, mas tampouco é rara.
A febre que se repete sem uma causa aparente pode levar à suspeita, mas os sintomas às vezes são confundidos com as chamadas dores de crescimento, condição que é muito frequente na infância, mas que é benigna, ou seja, desaparece sozinha, com o tempo. Até hoje não se sabe exatamente o que provoca essas dores, mas elas costumam ser aliviadas com massagens e descanso. Já no caso da artrite, a inflamação não melhora sozinha, e, quanto mais cedo ocorrer o diagnóstico e o tratamento for iniciado, maiores são as chances de remissão.
O uso bem controlado de corticoides, além de medicamentos imunossupressores ou imunobiológicos por tempo prolongado podem, em muitos casos, fazer a doença ser totalmente controlada. Fisioterapia e terapia ocupacional também são fundamentais para restabelecer a movimentação. “Se não tratada, a doença causa lesões nas articulações que não se regeneram”, conta Len, que também é diretor da ONG Acredite (http://www.acredite.org.br), que auxilia famílias afetadas. Infelizmente, são poucas as instituições públicas capacitadas para realizar o tratamento de crianças e adolescentes com reumatismo, e inclusive são poucos os médicos com essa especialidade no país.
Toda doença crônica causa enorme impacto na vida de uma criança ou adolescente, por isso é comum que muitas famílias precisem da ajuda de um profissional da área de psicologia. Por causa do processo inflamatório, algumas garotas podem ter o início da menstruação adiado, ou ficar longos períodos sem menstruar. Para quem já iniciou a vida sexual, o uso da camisinha é muito importante, já que os medicamentos imunossupressores podem causar problemas no feto, em caso de uma eventual gravidez, e alterar a defesa do organismo contra infecções sexualmente transmissíveis.