Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h51 - Atualizado às 23h53
Se você visse alguém roubar algum item em uma loja, você concluiria que essa pessoa é incapaz de fazer um bom trabalho? A maioria das pessoas sim, de acordo com uma pesquisa publicada pela Associação Americana de Psicologia.
Pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, e de Stanford, nos Estados Unidos, realizaram experimentos envolvendo mais de 1.500 pessoas e concluíram que, embora se possa argumentar que o comportamento moral de um indivíduo “na PF”, ou seja, na vida privada, possa não ter qualquer relação com sua competência profissional, a maioria das pessoas tende a confundir as coisas.
As equipes realizaram seis diferentes testes, em que simulavam diferentes cenários com sujeitos hipotéticos. Depois de ouvir as informações sobre os personagens, os participantes tinham que opinar se o sujeito era bom no trabalho, com notas de 1 a 10.
Em alguns casos, era dito que o personagem já tinha cometido alguma transgressão moral, como, por exemplo, roubar dinheiro destinado a uma instituição de caridade. Em outros, que o sujeito havia feito algo nobre, como doar dinheiro para os pobres.
Todos personagens que haviam feito algo moralmente inaceitável em sua vida privada foram classificados como menos competentes profissionalmente. O curioso é que, antes de um dos experimentos, os participantes chegaram a ser questionados se questões morais poderiam interferir na capacidade de uma pessoa fazer um bom trabalho, e associação foi negada.
De acordo com pesquisas anteriores, comportamentos imorais seriam vistos como exemplos de baixa inteligência social, algo que tem a ver com a capacidade de aderir às normas estabelecidas, se adaptar às situações e ajudar a gerenciar respostas agressivas de um colega de trabalho, por exemplo.
Então, em um dos experimentos, foi revelado que alguns dos personagens tinham altos níveis de inteligência social. Apenas nesses casos os indivíduos transgressores não foram classificados como menos competentes que os moralmente corretos. Ou seja: indivíduos imorais, mas socialmente inteligentes entram na categoria dos maquiavélicos e espertos, em vez de serem julgados como incompetentes.
Os dados, publicados no Journal of Personality and Social Psychology, mostram que as pessoas têm conceitos pré-estabelecidos sobre aspectos morais e competência, o que diz bastante sobre a velha ideia do “rouba mas faz”, atribuída a alguns políticos brasileiros.