Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h49 - Atualizado às 23h53
Os Estados Unidos divulgaram, esta semana, mais um aumento recorde no número de casos de clamídia, gonorreia e sífilis. O total de registros passou de 2 milhões em 2016, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). No ano passado, o mesmo relatório também havia chamado a atenção da mídia para o recorde histórico referente a 2015, de 1,8 milhão de casos.
As três doenças são de notificação compulsória nos EUA, ou seja, os médicos são obrigados a informar à autoridade de saúde quando o diagnóstico ocorre. O novo levantamento traz 1,6 milhão de casos de clamídia, 470 mil de gonorreia e quase 28 mil de sífilis. Somadas a outras infeccões, como as relativas a herpes e HIV, a estimativa é de que haja ao menos 20 milhões de novos casos por ano. Segundo o relatório, metade desse número refere-se a jovens de 15 a 24 anos, o que é preocupante.
No Brasil, o cenário não é muito diferente. Só o número de casos de sífilis adquirida (por relações sexuais desprotegidas, sem incluir a congênita) saltou 5.000% de 2010 para 2015. Clamídia e gonorreia não são doenças de notificação compulsória, mas tudo leva a crer que elas também estão mais frequentes – uma tendência que, aliás, é mundial.
Também aqui, segundo o Ministério da Saúde, é possível observar a vulnerabilidade dos mais jovens – o HIV, que é bem menos prevalente que a clamídia e a gonorreia, tem avançado nessa população. Na faixa de 15 a 19 anos, a taxa de detecção mais que dobrou em dez anos, passando de 2,8 casos a cada 100 mil habitantes para 5,8, em 2015. De todas as faixas etárias, essas também são as que menos aderem ao tratamento, o que facilita a transmissão do HIV. Apenas 29,2% dos 44 mil jovens identificados no Sistema Único de Saúde (SUS) seguem a terapia, segundo o Ministério.
A última Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), realizada em escolas de todo o país, mostrou que 31,8% dos brasileiros de 16 e 17 anos não usaram preservativo na primeira relação sexual. E essa proporção sobre para mais de 40% entre os adolescentes de 13 a 15 anos.
Se falta prevenção, o diagnóstico também é difícil. Os jovens não sabem onde fazer os exames de graça, ou têm vergonha de ir atrás dos testes. Para piorar o cenário, os sintomas muitas vezes demoram para surgir. É por isto que os especialistas têm dado preferência ao termo Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), em vez de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST): é possível ter e transmitir vírus e bactérias sem apresentar qualquer sinal suspeito. Incentivar as pessoas a realizarem exames de rotina, inclusive os adolescentes, é fundamental.