Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h49 - Atualizado às 23h53
Ancestrais do homem que viveram há cerca de 34 mil anos já sabiam que a endogamia, ou seja, a união de pessoas da mesma família, era algo perigoso. Segundo um estudo publicado na prestigiada revista Science, humanos que viveram no Paleolítico Superior desenvolveram um esquema sofisticado de redes sociais para evitar o casamento consanguíneo.
Pesquisadores das universidades de Cambridge, no Reino Unido, e de Copenhague, na Dinamarca, sequenciaram os genomas de restos mortais encontrados em uma cova em Sunghir, um sítio arqueológico que fica na Rússia. Para surpresa dos cientistas, os indivíduos enterrados com as cabeças unidas não eram da mesma família. Eram no máximo primos de segundo grau.
A riqueza e a complexidade das joias e dos objetos enterrados com os indivíduos sugerem que eles seguiam regras específicas e realizavam cerimônias e rituais para promover a união de integrantes de diferentes grupos.
A equipe acredita que a endogamia era comum nas pequenas tribos, mas, com o tempo, unidades familiares passaram a se conectar com outros grupos para promover o intercâmbio e evitar a endogamia. Um comportamento parecido com o que é observado em certas comunidades ainda hoje, como a dos aborígenes, na Austrália, e em algumas tribos de caçadores-coletores – eles vivem em grupos pequenos, mas têm conexão com comunidades maiores, e há regras para definir quem pode se casar com quem.
Os autores do estudo também sugerem que o desenvolvimento precoce dessas redes sociais pode explicar porque os seres humanos modernos tiveram sucesso como espécie, enquanto outras, como os neandertais, por exemplo, acabaram extintas. Mas claro que essa tese ainda precisa ser mais pesquisada.