Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h27 - Atualizado às 23h56
Muito se tem falado sobre a oxitocina, conhecida como “hormônio do amor”, seu papel na ligação de mães e bebês e até na excitação sexual. Agora, um estudo sugere que a substância também possui seu lado negro: ela influenciaria nosso comportamento de forma similar ao álcool.
A oxitocina é um hormônio e também um neurotransmissor. Produzido pelo hipotálamo, no cérebro, controla a contração do útero, no parto, e a produção de leite durante a amamentação.
Sabe-se, hoje, que o hormônio também interfere em comportamentos como o altruísmo, a empatia e a generosidade, tornando as pessoas mais dispostas a confiar nos outros.
O pesquisador Ian Mitchell, da Faculdade de Psicologia da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, afirma que a oxitocina suprime a atividade de certas áreas no cérebro, reduzindo a ansiedade, o medo e o estresse.
Como a bebida alcoólica também desencadeia esses comportamentos, o pesquisador e sua equipe analisaram uma série de estudos sobre os efeitos da oxitocina administrada por meio de spray nasal e do álcool no cérebro.
O grupo descobriu que as duas substâncias agem de forma similar. Embora alcancem receptores diferentes no cérebro, ambas têm efeitos semelhantes sobre o Gaba (ácido gama-aminobutírico), outro neurotransmissor importante, e sua ação no córtex pré-frontal e em áreas límbicas do cérebro.
Explicando melhor: esse circuito que envolve o Gaba controla o modo como percebemos o estresse e a ansiedade, por exemplo em situações como entrevistas de emprego ou início de paquera. Não é à toa que muita gente usa o álcool para tomar coragem e convidar alguém para sair.
Os pesquisadores acreditam que a oxitocina poderia ser usada com finalidade parecida, o que não é algo livre de efeitos colaterais. Segundo outro autor do estudo, Steven Gillespie, tanto o álcool quanto o hormônio podem tornar as pessoas mais agressivas, arrogantes e invejosas, além de incentivar o favoritismo em relação a certos indivíduos.
Qualquer substância usada artificialmente para influenciar nosso medo e percepção de confiança pode envolver riscos, reiteram os autores. De qualquer forma, eles acreditam que a oxitocina talvez seja útil, no futuro, para tratar certas condições psicológicas e psiquiátricas.
A descoberta foi publicada no periódico Neuroscience and Biobehavioral Reviews e divulgada no site Medical News Today.