Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h52 - Atualizado às 23h53
Falar com os jovens sobre a importância da camisinha é fácil – a maioria sabe que esse é o principal escudo contra as ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) e gravidez indesejada. O difícil é convencê-los a usar a proteção, na prática. Quando o assunto é sexo oral, então, o desafio é ainda maior.
Há poucos estudos brasileiros específicos sobre o uso de preservativo nessa modalidade de sexo. Mas uma pesquisa norte-americana, publicada este mês no Journal of Adolescent Health, pode dar uma ideia do cenário: apenas 7,6% das moças e 9,3% dos rapazes de 15 a 24 anos relataram ter usado camisinha na ocasião mais recente em que fizeram sexo oral. O levantamento contou com 3.816 participantes do sexo feminino e 3.520 do sexo masculino.
Para piorar, a tendência é deixar o hábito de lado após a maioridade: considerando-se apenas a faixa de 20 a 24 anos, as proporções encontradas foram de 6,3%,para as mulheres e de 8,8% para os homens. As jovens cujas mães tinham níveis mais altos de escolaridade foram as mais propensas a praticar sexo oral e, por incrível que pareça, as menos propensas a usar proteção. E esse comportamento também foi menos comum entre as meninas que ainda não tinham feito sexo com penetração, segundo os autores, da Universidade de Tampa, na Flórida.
Muitas vezes o sexo oral é visto como uma opção “mais segura” de prazer para as ocasiões em que a camisinha não está disponível ou a dupla ainda não está pronta para perder a virgindade. Mas não é assim. Embora o risco de engravidar com sexo oral seja zero, várias infecções podem ser transmitidas pelo contato da boca com os órgãos sexuais. No caso do HIV, a probabilidade é pequena. Mas outras ISTs – como clamídia, sífilis e gonorreia –podem ser adquiridas dessa forma. Vários estudos têm mostrado que a prática inclusive estaria por trás do aumento nos casos de câncer de boca e garganta, provocados pelo HPV.
O Brasil, assim como vários outros países, tem registrado um aumento galopante nos casos de sífilis: para se ter uma ideia, de 2010 a 2015, o número disparou de 1.249 para 65.878, segundo o Ministério da Saúde. A gonorreia não é de notificação compulsória, por isso não há estatísticas, mas sabemos que essa doença é ainda mais frequente que a sífilis. Ambas podem ser assintomáticas em determinadas fases, o que só colabora para a transmissão. E, para piorar, nem todo mundo que recebe o diagnóstico quer contar para o parceiro, que acaba não sendo tratado.
De acordo com pesquisa do Ministério da Saúde, os jovens brasileiros são a parcela da população que menos se protege com a camisinha. Na faixa etária de 15 a 24 anos, o uso regular caiu tanto nas relações com parceiros eventuais – de 58,4% em 2004 para 56,6% em 2013 – como com parceiros fixos – de 38,8% para 34,2%.
Se as campanhas do governo e os programas de educação sexual nas escolas não são suficientes para estimular o comportamento, é importante que a informação seja reforçada em casa e desde cedo, antes mesmo que os jovens tenham seus primeiros contatos sexuais.