Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h54 - Atualizado às 23h53
Pais que passam muito tempo no smartphone ou assistindo à TV nos momentos em que a família está junta não têm ideia de como isso tem influência sobre o relacionamento deles com os filhos. Segundo um estudo conduzido por pesquisadores das universidades de Illinois e de Michigan, nos Estados Unidos, a interferência da tecnologia leva as crianças a apresentar mais frustrações, hiperatividade, choros e birras.
Adultos têm dedicado nove horas por dia, em média, às telas de TV, computadores, tablets ou smartphones. Esses dois últimos, ou seja, a tecnologia móvel, representa um terço do total, segundo estimativas recentes. Essas telinhas hoje têm feito parte das refeições em família, dos momentos de lazer e até são levadas para a cama à noite. Isso quando não se sobrepõem: adultos dividem a atenção na TV com o smartphone, enquanto as crianças assistem à TV e usam tablet ao mesmo tempo.
Levantamentos recentes também mostram que as interações face a face são interrompidas com cada vez mais frequência. Basta a gente fazer uma autoanálise. Por isso os pesquisadores decidiram investigar o impacto do que eles chamam de “tecnoferência” (interferência da tecnologia) no comportamento e nas relações familiares.
A equipe analisou dados de 337 pais e mães com filhos de até 5 anos de idade, ao longo de dois anos. Nos questionários, os adultos tinham que quantificar e descrever as situações em que eles e as crianças usavam os diferentes tipos de tecnologia. Também foram levantadas questões sobre comportamento, tendência ao estresse e depressão.
Os resultados da análise foram publicados no periódico Pediatric Research. Uma das conclusões apontadas é que, quanto maior o uso da tecnologia, maior a tendência das crianças ficarem bravas ou tristes com facilidade, e terem crises de birra quando contrariadas.
Quando os pais estão concentrados em seus dispositivos móveis e as crianças vêm interromper com alguma pergunta, a tendência é eles responderem com pressa ou até de forma hostil. OK, isso já era realidade com o advento da TV. O problema é que, agora, a “TV” vai com a família para todo lugar, inclusive para as festas. É natural que os pequenos amplifiquem suas reações para chamar a atenção dos pais.
Para piorar tudo, há um ciclo vicioso: a criança tem que fazer mais escândalo para tirar os pais da tecnologia, e eles ficam mais estressados por causa disso e, adivinhe o que acontece? Eles tendem a se voltar mais ainda para a tecnologia para obter um refúgio das birras infantis. As crianças, por sua vez, também vão substituir a falta de conversa, atenção e apoio emocional pelos prazeres proporcionados pelas telas.
Com esse cenário, fica fácil entender porque os jovens não dão atenção integral para os próprios pais, tios ou professores, e são vistos como dispersos ou pouco educados. A coisa já está complicada, mas pode ficar ainda mais.