Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h54 - Atualizado às 23h53
Muitos pais de adolescentes imploram para os filhos nunca usarem drogas e nem chegar perto delas. Mas pregar a abstinência é uma estratégia que não tem funcionado. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tem mostrado que a proporção de adolescentes que experimenta álcool e drogas só aumenta.
Segundo o IBGE, 9% dos brasileiros de 13 a 15 anos já provaram drogas ilícitas, contra 7,3%, em 2012. A experimentação de álcool também passou de 50 para 55% de lá para cá, sendo que um em cada cinco garotos ou garotas dessa faixa etária admite que já ficou bêbado.
O que os pais podem fazer? Em primeiro lugar, estudar o assunto de cabo a rabo, porque mitos e exageros só aumentam a distância entre um jovem, que precisa de informação confiável, e seu pai, que não frequenta as mesmas baladas. Depois, iniciar uma conversa franca e dar dicas práticas.
A Drug Policy Alliance, uma instituição sem fins lucrativos, nos Estados Unidos, voltada para redução de danos, elaborou um guia com sugestões úteis para proteger os adolescentes de encrencas. O conteúdo foi traduzido no Brasil pelo Instituto Igarapé, uma “think tank” como agenda similar que tem sede no Rio de Janeiro. O site da instituição também disponibilizou um material específico para professores, com uma proposta de aula sobre o tema.
Destaco, aqui, algumas dicas do guia elaborado para os pais, que podem ser úteis para quem não sabe muito bem como ajudar sem “chover no molhado”:
– Ensine arecusar: em vez de dizer para eles dizerem não, dê sugestões de como fazer isso na prática. “Não me cai bem”, “Estou tomando remédio e não posso misturar” ou “Amanhã tenho que acordar cedo” são algumas ideias para lidar com um colega insistente.
– Evitar “apagões”: comer bem, dormir o suficiente e tomar bastante água podem impedir que eles passem mal depois de exagerar no álcool ou experimentar alguma droga.
– Coloque-se à disposição: muitos adolescentes se colocam em risco por não terem confiança suficiente para pedir ajuda aos pais na hora do aperto. Vença essa barreira e diga sempre que você pode ir buscá-lo no meio da madrugada, se ele estiver numa situação em que a carona ou ele próprio exagerou na bebida.
– Lembre que há diferenças: pais e mães de meninas devem avisar que, por causa da massa corporal e de questões hormonais, elas se intoxicam mais rápido e com menor quantidade de álcool. E que antes e durante a menstruação elas podem sentir mais os efeitos da intoxicação.
– Fale sobre misturas: ensine que bebidas alcoólicas interagem (mal) com certos medicamentos e ainda mais com outras drogas. E que bebidas doces, quando misturadas ao álcool, são um convite ao exagero.
– Bebidas e sexo não combinam: o álcool relaxa e pode comprometer a capacidade de uma pessoa ter uma noção clara dos riscos de uma situação, como transar sem camisinha. Estimule seu filho a criar um esquema de vigilância mútua com os amigos, amigas ou irmãos, para que ninguém seja deixado sozinho bêbado ou drogado.
– Não há garantias: este aviso é um dos mais importantes – drogas ilícitas não têm rótulo, nem controle de qualidade. A maioria das mortes por uso de substâncias ocorre porque a pessoa não sabia o que estava consumindo.
– Não é mito: o velho conselho de não aceitar bebidas de estranhos continua valendo. Até colegas sem noção podem batizar o copo ou a garrafa do seu filho para fazer uma brincadeira de mal gosto. Diga para ele acompanhar o preparo dos drinques e tirar a tampinha ele próprio.
A geração atual está exposta a uma variedade maior de substâncias sintetizadas em laboratórios de fundo de quintal. Até a maconha, que muitos pais usaram na juventude, hoje tem uma potência maior por causa de novas técnicas de cultivo. Nem sempre é possível evitar que eles experimentem essas drogas, mas se informar e manter o diálogo pode impedir muitos problemas.