Quase um terço dos usuários expostos a fotos de gente que feriu o próprio corpo disse ter realizado algo parecido em seguida
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h58 - Atualizado às 23h52
No começo deste ano, uma polêmica sobre o Instagram tomou conta do noticiário internacional: o pai de uma jovem britânica de 14 anos responsabilizava a rede social pelo suicídio da filha. Ela teria tido acesso a imagens perturbadoras de automutilação antes de tirar a própria vida. Após a repercussão, os donos da plataforma anunciaram a decisão de reforçar os mecanismos de controle sobre esse tipo de publicação.
Mas será que a automutilação é mesmo (ou pelo menos era) um tema frequente nas imagens postadas nas rede? E será que o acesso a esse tipo de conteúdo pode levar as pessoas a imitarem o comportamento? Um estudo que acaba de ser publicado mostra que a resposta para as duas perguntas é “sim”.
De uma amostra de 729 norte-americanos de 18 a 29 anos de idade que acessam o Instagram, 43% relataram já ter se deparado com um post de automutilação ao menos uma vez na vida. Metade do total foi exposta mais de uma vez.
Os dados, publicados no periódico New Media & Society, partiram de entrevistas on-line realizadas entre maio e junho do ano passado, antes de o Instagram ter anunciado as mudanças no sistema de algoritmos. A maioria dos entrevistados era do sexo feminino.
Cerca de 80% dos usuários disseram ter encontrado as fotos por acaso, e não após ter buscado algo relativo ao assunto. Mais da metade, ou 59% deles, ficou emocionalmente abalada por causa das imagens, de acordo com os autores do estudo, da Universidade da Pensilvânia e de duas instituições europeias.
O mais preocupante é o que vem a seguir: quase um terço dos usuários expostos a fotos de gente que feriu o próprio corpo, ou 32%, disse ter realizado algo parecido em seguida. As entrevistas foram feitas duas vezes, e, na segunda abordagem, os pesquisadores identificaram uma tendência maior a ideias suicidas nesses jovens influenciados pelos posts de automutilação.
As imagens mais citadas pelos usuários foram de ferimentos leves ou moderados, como cicatrizes na pele. Mas alguns jovens disseram ter visualizado cortes com sangramento em extremidades do corpo. Muitos posts não deixavam claro se os machucados tinham sido provocados pelos próprios autores dos perfis ou não.
O suicídio é a segunda principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos nos EUA e também em alguns países da Europa, e este é apenas mais um dos estudos que chamam atenção para a influência exercida pelas mídias sociais nesses números.
Apesar das novas diretrizes do Instagram, a gente sabe que é difícil controlar o acesso a qualquer tipo de conteúdo na internet. Também é importante lembrar que os jovens muitas vezes publicam imagens de automutilação na tentativa de obter alívio para o sofrimento emocional, ou até como um pedido de socorro. Não há solução fácil para essas questões, mas é importante que elas sejam discutidas por toda a sociedade.