Qualidade do sêmen teve queda acentuada nos últimos anos

Análise feita em Campinas (SP) revela declínio na concentração, capacidade de nadar e forma dos espermatozoides

Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h52 - Atualizado às 23h53

-
Crédito: Tatiana Shepeleva/Fotolia

Homens podem estar mais propensos a ter problemas de fertilidade, segundo algumas pesquisas recentes baseadas em análises de sêmen, que incluem o Brasil.

Uma pesquisa de mestrado da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) chegou a essa conclusão após analisar amostras de sêmen de 9.495 homens atendidos no hospital da universidade nos últimos 27 anos, com queixas de dificuldade de engravidar suas parceiras. Ao todo, foram analisadas 18.902 amostras.

O trabalho, de autoria da bióloga Anne Ropelle, avaliou três parâmetros que podem ter impacto na fertilidade: a concentração, capacidade de movimentação e forma dos espermatozoides.

O estudo mostrou que a concentração média de espermatozoides dos pacientes caiu de 86 milhões por ml, no período de 1989 a 1995, para 48 milhões, de 2011 a 2016, ou seja, quase a metade. Homens que apresentam valores inferiores a 15 milhões por ml podem ter dificuldade para engravidar suas parceiras.

A motilidade, ou seja, a capacidade de movimentação dos espermatozoides, é considerada normal quando é igual ou maior que 32%. Nos pacientes, a média foi de 47% no primeiro período, mas caiu para 36% entre 2011 e 2016. Por último, a morfologia (forma) das células, que é considerada normal quando igual ou superior a 4%, caiu de 12% para 3,7%.

Os resultados coincidem com um estudo publicado no ano passado por pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém, que revisaram pesquisas feitas com amostras sêmen de norte-americanos, europeus, australianos e neozelandeses.  Eles descobriram que a concentração média de espermatozoides desses homens diminuiu mais de 50% em menos de 40 anos. A conclusão foi publicada no periódico científico Human Reproduction Update.

As causas dessas mudanças ainda são alvo de estudos, mas a hipótese mais provável é que o aumento da obesidade seja o principal culpado. É que a concentração de gordura aumenta a concentração de estrogênio, e isso pode interferir na qualidade do sêmen.

Casais com dificuldade para engravidar devem procurar um especialista em reprodução humana e passar por exames para avaliar os possíveis obstáculos. Mas homens que apresentam alterações na qualidade do sêmen devem adotar medidas como controlar o peso, fazer atividade física e evitar o uso de álcool e drogas.

comportamento obesidade fertilidade saúde do homem qualidade espermatozoides sêmen estilo de vida início