Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h54 - Atualizado às 23h53
Uma das formas mais frequentes de bullying é a exclusão. Quando a gente pensa no assunto, a primeira imagem que vem à mente é a de uma criança que, por causa da aparência, é deixada sozinha na hora do recreio e, ao tentar entrar numa roda, alguém do grupo diz que ela não foi convidada.
Mas a exclusão é bastante frequente entre adultos, também. Como aquele sujeito que sempre faz perguntas insistentes, na reunião, e acaba sendo deixado de lado nas festas informais da firma, ou o cara que sempre levanta a mão para questionar o professor na faculdade, e gera olhares impacientes ou risadinhas.
Quando as pessoas que estão de fora fazem seus próprios julgamentos, uma situação de bullying pode ser reforçada ou inibida. O mesmo grupo que morreria de pena da menina excluída de brincadeiras na escola pode achar justo que o cara insistente da sala de aula seja colocado de escanteio porque, afinal, ninguém aguenta os comentários dele.
Entender por que certas pessoas são julgadas por um grupo é importante para tentar entender esse fenômeno, que já se mostrou perigoso. Diversas pesquisas mostram que quem sofre humilhações de maneira consistente na escola ou no trabalho é muito mais propenso a depressão, suicídio e abuso de álcool e drogas. E quem humilha também é vulnerável, segundo novas evidências.
Um estudo que acaba de ser publicado pela Universidade da Basileia, na Suíça, mostra que muita gente faz julgamentos inconscientes com base nas diferenças ou semelhanças da vítima em relação ao grupo. Você já sabe que minorias sofrem muito bullying porque são diferentes, certo? Mas na prática da exclusão, que é mais sutil, a lógica pode ser bem diferente.
Os pesquisadores, liderados pela psicóloga Selma Rudert, conduziram cinco experimentos para examinar fatores que podem influenciar o julgamento das pessoas em relação à exclusão. O número de participantes em cada um dos testes variou de 30 a 527.
A equipe percebeu que as pessoas tendem a achar mais injusto excluir alguém que é visivelmente diferente do restante do grupo, como indivíduos com cor de pele ou etnia diferentes. Já quando a vítima é muito semelhante, os espectadores são mais propensos a considerar que ela, digamos assim, recebeu o que merecia.
Em um dos experimentos, uma discussão foi simulada na sala de aula por três estudantes, e um deles era sempre ignorado pelos outros dois. Quando o excluído era de um país diferente, ou tinha outro tom de pele, a classe ficava irritada com os dois alunos. Mas quando os três eram semelhantes, ninguém se manifestou a favor da vítima.
Segundo os pesquisadores, o fenômeno se repetiu mesmo quando as diferenças eram superficiais, como um penteado de cabelo. Isso indica, para eles, que as pessoas tendem a incorporar as semelhanças de forma inconsciente ao fazer julgamentos morais. Esses resultados foram publicados no Journal of Personality and Social Psychology.
Moral da história? Talvez todo mundo tenha que se policiar um pouco para não cometer certas injustiças de forma inconsciente. Não adianta protestar contra o bullying e o preconceito se a gente também não aceitar melhor que algumas pessoas têm opiniões e comportamentos diferentes da maioria.