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“Carezza”: sexo para além do orgasmo

Há muito mais para ser explorado na intimidade de uma casal - Freepik
Há muito mais para ser explorado na intimidade de uma casal - Freepik

José Roberto Miney Publicado em 11/05/2021, às 11h28

Certa feita, o príncipe Aly Khan, terceiro marido de Rita Hayworth, diva do cinema da década de 40, disse a uma revista de variedades: “Sou praticante de ‘carezza’ e, quando faço sexo com a Rita, consigo prolongar a relação durante duas horas”.

Isso foi há muito tempo, a fala se perdeu no tempo, mas não deixa de suscitar uma pergunta: “Carezza? O que é isso?”.

Qual a definição de “carezza”?

De acordo com o Dicionário da APA (Associação de Psicologia Americana), “carezza” é uma forma de coito em que o homem não atinge o orgasmo. Às vezes é usado como um meio de controle de natalidade, mas, se combinado com a meditação, é semelhante à técnica do coitus reservatus (“coito reservado”, ou continência sexual, em que o parceiro penetrante evita ejacular).

As técnicas de “carezza” são derivadas de princípios do tantrismo hindu e, nesse sentido, foram descritas pela primeira vez pela ginecologista americana Alice B. Stockham (1833–1912), em 1896. Também chamado de coitus prolongatus (coito prolongado).

Como se vê, a técnica de carezza saiu das colunas de variedades para entrar nos anais (com o perdão do trocadilho) da Ciência.

As origens: o sexo tântrico

O termo tantra (“tear”, “tecer”, do sânscrito) se refere a práticas hindus milenares, tendo uma ampla gama de significados para essa tradição: “texto, teoria, sistema, método, instrumento, técnica ou prática".

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As divindades Shiva e Shakti - Reprodução / Pinterest

A prática do tantra tem como objetivo o crescimento interior e a iluminação da consciência por meio de técnicas físicas e mentais. Segundo alguns estudiosos, busca-se na prática do sexo tântrico a reintegração do ser humano à dualidade cósmica representada por Shiva e Shakti, os princípios masculino e feminino, o positivo e o negativo. Ou seja, essa prática visa unir espiritualidade e sexualidade, com ênfase na intimidade durante a experiência sexual, sendo que o orgasmo não é prioritário e nem sempre necessário

Da Índia para os Estados Unidos

A técnica de carezza aparece pela primeira vez em um livro de 1931, escrito por J. Williams Lloyd, The karezza method (O método carezza). De acordo com o autor, o nome carezza e sua divulgação nos Estados Unidos se devem à médica Alice B. Stockham.

O termo “carezza” vem do italiano e significa "carícia". Como no sexo tântrico, o objetivo dessa prática, ao contrário da maioria dos tipos de relação sexual, não é o orgasmo, mas sim atingir um estado de união relaxado com o parceiro ou parceira sexual, sem pressa.

Lloyd relata que a técnica foi “descoberta” em 1844 por John Humphrey Noyes, que morava em Oneida (uma comunidade esotérica fundada por ele), Nova York.

Noyes deu forma à prática sexual que se tornaria carezza a partir de “experiências e experimentos de sua própria vida”. Ele chamou sua técnica de atingir a proximidade sexual sem orgasmo de “continência masculina”, porque originalmente era permitido que a mulher atingisse o orgasmo. Mais tarde, porém, carezza passou a nomear a experiência sexual não orgástica vivenciada por ambos os parceiros.

Como se pratica o carezza?

Não é difícil encontrar na internet sites que ensinam o passo a passo da prática de carezza, como se fosse uma receita culinária. No entanto, como se viu até aqui, trata-se de uma interação íntima, profunda e espiritual entre os parceiros, sem necessariamente ter o orgasmo em vista.

Assim, conta muito a linguagem verbal e corporal trocada entre os dois, os toques, as carícias, a exploração mútua dos corpos. Nesse sentido, pode-se dizer, sem medo de errar, que “cada caso é um caso”, um caminho a ser trilhado, descoberto, explorado e renovado pelo par.

Muito diferente é o “edging”, outra técnica bastante comentada atualmente, para retardar o orgasmo e até intensificá-lo. Na verdade, trata-se de um tratamento de mais de meio século para ejaculação precoce. James H. Semans criou o método, que chamou de “stop-start”, publicado no Journal of Sexual Medicine em 1956, para prolongar o ato e retardar o orgasmo. (Hoje até alguns veículos têm o recurso “stop-start”... mas para economizar combustível.)

Também diferente é o que se tem chamado de “massagem tântrica”, que tem como objetivo redistribuir as energias sexuais do corpo, expandindo a sensibilidade e proporcionado vivências mais intensas. Para muitos profissionais, a técnica não exclui o orgasmo, experiência denominada de “happy ending”.

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