Redação Publicado em 01/02/2022, às 08h00
Você sabia que um em cada sete bebês nascidos no Brasil tem mãe adolescente? Essa proporção, obtida a partir do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), do SUS, mostra que ainda faltam ações mais consistentes para reduzir esse número, que ultrapassou 380 mil nascimentos em 2020.
Para marcar a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, que começa nesta terça (1º), o psiquiatra Jairo Bouer participou de um bate-papo com as ginecologistas Claudia Salomão, da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig) e Virgínia Werneck, que também faz parte da Associação Brasileira de Obstetrícia e Ginecologia da Infância e Adolescência (Sogia). Ambas também são representantes da Sociedade Mineira de Pediatria.
Conforme explica Jairo, a questão da desigualdade ainda é muito forte quando se analisa as taxas de gravidez na adolescência. Em São Paulo, por exemplo, existem bairros mais centrais com índices comparáveis aos de países desenvolvidos. Já na periferia, as taxas são comparáveis às da África subsaariana. Para solucionar o problema, é preciso um investimento alto em programas de educação, bem como facilitar o acesso a métodos de contracepção.
De um modo geral, ainda que programas do Ministério da Saúde tenham feito com que o número de gestacões na infância e adolescência venha caindo desde 2000, a proporção ainda é muito alta no país. “A gente tem assistido a uma mudança de postura, sim, mas isso está muito mais ligado a como os jovens se comunicam nas redes sociais, por exemplo, do que à educação – nos últimos anos houve uma piora muito grande nos programas de educação sexual nas escolas”, critica Jairo.
Para Virgínia, sem dúvida a internet ajudou a democraticar a informação e empoderar os adolescentes, mas ainda há obstáculos para ajudá-los a assimilar o que é importante. “Muitas vezes, eles não têm maturidade, então é importante um educador, um médico, alguém que consiga organizar as informações para que eles sejam realmente detentores do conhecimento”, opina.
Claudia concorda que ainda existe uma lacuna para se alcançar o adolescente, que em geral vai menos ao médico. Ainda que muitas meninas sejam levadas ao ginecologista pela mãe, a ida dos garotos ao urologista ainda é algo raro. E, ainda que os pais estejam mais "descolados, ainda existe a vergonha de conversar sobre o assunto em casa. Jairo comenta que um dos vídeos com maior número de visualizações no TikTok, até hoje, foi de uma garota pedindo dicas para convencer a mãe a levá-la ao ginecologista. O que mostra que muitas famílias ainda têm pouco diálogo, deixando os jovens vulneráveis.
Assista ao bate-papo completo: