O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é tipicamente visto como uma condição infantil. Mas cada vez mais adultos estão percebendo que suas dificuldades com atenção, foco e inquietação podem, na verdade, ser um TDAH que não foi diagnosticado na infância.
O fenômeno tem muito a ver com vídeos que circulam nas redes sociais. Com milhões de visualizações, eles permitem que muita gente identifique os sintomas do transtorno, o que, muitas vezes, traz um enorme alívio. O problema é que nem todo mundo busca um profissional para ter certeza de que se trata de um TDAH não diagnosticado, ou alguma outra condição que tenha sintomas semelhantes, como privação de sono ou ansiedade.
Uma pesquisa com 1.000 adultos norte-americanos revela que 25% dos adultos suspeitam que possam ter um TDAH não diagnosticado. No entanto, apenas 13% dos entrevistados compartilharam suas suspeitas com seus médicos.
Para especialistas em saúde mental, isso levanta questões como as possíveis consequências do autodiagnóstico, que pode levar a tratamentos incorretos.
A pesquisa foi encomendada pelo Centro Médico Wexner e pela Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Ohio, nos EUA. A margem de erro para o total de entrevistados é de +/- 3,8 pontos percentuais, com nível de confiança de 95%.
"Ansiedade, depressão e TDAH – todas essas condições podem ser muito parecidas, mas o tratamento errado pode piorar a situação em vez de ajudar a pessoa a se sentir melhor e a melhorar sua funcionalidade", alertou o psicólogo Justin Barterian, professor-assistente do Departamento de Psiquiatria e Saúde Comportamental da Universidade Estadual de Ohio.
Estima-se que 4,4% das pessoas entre 18 e 44 anos tenham TDAH, e algumas pessoas só são diagnosticadas mais tarde. "Há definitivamente uma maior conscientização de como isso pode continuar a afetar as pessoas na vida adulta, e muitas delas estão percebendo, depois que seus filhos são diagnosticados, que também apresentam esses sintomas, dado que é um transtorno genético", comentou Barterian.
A pesquisa descobriu que os adultos mais jovens são mais propensos a acreditar que têm TDAH não diagnosticado do que as gerações anteriores, e também são mais propensos a tomar alguma atitude em relação à crença.
Quem realmente se identifica com as descrições deve procurar um profissional de saúde, como um médico de atenção primária, para receber um encaminhamento a um especialista em saúde mental. Só assim é possível ser avaliado de forma completa e, eventualmente, diagnosticado e tratado de maneira eficaz.
"Se você está assistindo a vídeos nas redes sociais e acha que pode preencher os critérios para o transtorno, eu o encorajaria a procurar uma avaliação com um psicólogo, psiquiatra ou médico para verificar isso", recomendou Barterian.
Adultos com TDAH terão problemas com atenção, hiperatividade e impulsividade que são graves o suficiente para causar desafios contínuos na escola, no trabalho e em casa. Esses sintomas são persistentes e disruptivos e, muitas vezes, podem ser rastreados até a infância.
O TDAH em adultos ocorre em:
- Adultos que foram diagnosticados na infância, mas cujos sintomas continuam na vida adulta.
- Adultos que são diagnosticados pela primeira vez, apesar de experimentarem sintomas desde a infância que foram ignorados ou diagnosticados incorretamente.
A hiperatividade como sintoma é geralmente menos presente em adultos do que em crianças. Muitos adultos com TDAH lutam com questões de memória e concentração. Os sintomas frequentemente pioram com o estresse, conflitos ou aumento das demandas da vida.
Por outro lado, é sempre bom lembrar que enfrentar períodos estressantes, bem como desenvolver um quadro de depressão ou ansiedade, também podem gerar problemas de concentração e memória. Daí a importância de buscar o diagnóstico de um profissional especializado.
Os três tipos de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade são:
- TDAH desatento: a principal característica é a inncapacidade de manter a atenção e distração. Também é conhecido como transtorno de déficit de atenção (TDA).
- TDAH hiperativo e impulsivo: como o nome diz, é marcado por hiperatividade e impulsividade.
- TDAH combinado: esse tipo causa desatenção, hiperatividade e impulsividade.
"Os sintomas de TDAH podem parecer diferentes entre as pessoas", acrescentou Barterian. "Algumas pessoas podem ter mais dificuldade em se concentrar em palestras ou com organização, enquanto outras podem ter mais dificuldades sociais com impulsividade e problemas para acompanhar conversas."
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin
