Redação Publicado em 11/06/2021, às 18h00 - Atualizado às 19h00
Os desafios impostos pela pandemia têm sido tantos, que, segundo uma pesquisa com 68 mil jovens de 15 a 29 anos, de todo o Brasil, 43% disseram ter pensado em parar de estudar desde que a Covid-19 começou.
De acordo com a segunda edição da pesquisa Juventudes e a Pandemia do Coronavírus (Covid-19), realizada entre março e abril deste ano, a educação dos brasileiros está ameaçada. Na primeira edição da pesquisa – que foi realizada em junho de 2020, a proporção era de apenas 28%.
Os resultados revelam, ainda, que 6% dos jovens trancaram a matrícula e, desses, 56% fizeram isso durante a pandemia.
Segundo os achados, os principais motivos que levaram os alunos a interromperem seus estudos foram problemas financeiros (citados por 21% dos entrevistados) e dificuldades com o ensino à distância (14%).
Quase metade dos jovens que pararam de estudar (47%) disse que voltaria às aulas caso toda a população fosse vacinada, e 36% gostariam de ter a garantia de uma renda básica ou auxílio emergencial.
Esses são alguns dos dados presentes no relatório e que foram captados por meio de um questionário online com 77 perguntas divididas em cinco blocos temáticos: perfil sociodemográfico; saúde; educação; trabalho e renda; e vida pública.
A iniciativa é do Conselho Nacional da Juventude (Conjuve), em parceria com Em Movimento, Fundação Roberto Marinho, Mapa Educação, Porvir, Rede Conhecimento Social, Unesco e Visão Mundial.
Para os pesquisadores, todo o contexto evidenciado na pesquisa tem forte influência no processo de desenvolvimento da população jovem no Brasil. Uma série de direitos têm sido violados e negligenciados e, para o enfrentamento desses desafios, é fundamental que haja ações concretas e baseadas em evidências.
Confira:
O estudo mostra que os desafios da juventude durante a pandemia não se limitam à educação, mas também estão relacionados a outras questões. No caso da questão financeira, por exemplo, a extinção do auxílio emergencial aumentou para 38% a proporção de jovens que buscaram complementar a renda por necessidade em 2021, contra 23% em 2020. Entre os estudantes pretos esse índice é ainda maior: 47%.
Aqueles que conseguiram ter esse complemento recorreram à informalidade. Entre 4 de cada 10 alunos que tiveram uma renda, dois fizeram trabalhos pontuais sem carteira assinada, trabalharam por conta própria ou abriram um negócio.
Entretanto, para lidar com os efeitos da pandemia no trabalho, os entrevistados disseram querer apoio para o mercado informal: 25% acreditam que as instituições públicas e privadas devem ter como prioridade ações que estimulem o surgimento de novos trabalhos; 20% querem políticas de renda emergencial para famílias vulneráveis e 20% desejam a ampliação dos empregos formais.
Os estudantes que participaram da pesquisa também revelaram o desejo de ter apoio para lidar com a saúde mental. Seis em cada 10 jovens disseram ter sentido ansiedade e feito uso exagerado das redes sociais durante a pandemia, enquanto cinco em cada 10 relataram cansaço ou exaustão, e quatro a cada 10 tiveram insônia ou distúrbios de peso.
Além disso, um em cada 10 entrevistados admitiu ter tido pensamentos suicidas ou de automutilação. Metade dos jovens considera prioritário fornecer atendimento psicológico na saúde pública e 37% acreditam que esse suporte também deveria existir nas escolas.
Entre as medidas de autocuidado mais adotadas pelos estudantes durante o período de isolamento social estão as atividades físicas (51%) e consultas médicas de rotina (31%). Mesmo assim, muitos não conseguiram ter essas precauções, sendo que cinco a cada 10 disseram que não têm se exercitado, sete a cada 10 não foram a médicos ou odontologistas e nove a cada 10 informaram não ter iniciado psicoterapia.
Quando o assunto foi proteção contra o coronavírus e a vacina, 82% dos jovens disseram que querem receber o imunizante. A possibilidade de imunizar a maior parte da população, inclusive, é vista como algo que pode trazer otimismo por 92% dos alunos, enquanto 87% acreditam que é preciso implantar políticas para conter sobrecarga no sistema de saúde e 84% defendem que um protocolo para lidar com futuras crises sanitárias é o caminho para garantir boas perspectivas. A maioria também acha necessária a criação de políticas para amenizar efeitos da pandemia na educação.
Segundo os pesquisadores, os dados reforçam a necessidade de políticas públicas que abraçem diversos setores da sociedade, visto que os fatores associados à possibilidade de abandono escolar são múltiplos, como necessidade de ganhar dinheiro, dificuldades para se organizar, acompanhar e aprender no contexto do ensino remoto, necessidade de cuidar de filhos e outros parentes, e problemas de saúde, incluindo a depressão.
Vale lembrar que a evasão escolar gera consequências graves para os jovens, que vivem menos, com menos saúde e menor renda ao longo da vida. Além disso, a violação do direito à educação gera uma perda de R$ 220 bilhões por ano, ou 3,3% do PIB brasileiro.
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