Quando se trata de saúde física, a maioria de nós não hesita muito em buscar ajuda quando está com um osso quebrado ou uma queimadura na pele. Mas quando se trata de saúde emocional, muitas vezes há um atraso nessa procura, o que quase sempre leva a um agravamento do quadro.
Por questões como falta de informação, recursos ou até mesmo por preconceito, a maioria das pessoas só chega a um psicólogo e psiquiatra quando está em uma situação muito grave.
Segundo a psicoterapeuta norte-americana Lori Gottlieb, que tem uma coluna semanal no jornal The Atlantic, as pessoas só procuram terapia quando têm o equivalente a um “ataque cardíaco emocional”. Em uma conversa no podcast Chasing Life, do médico da CNN Sanjay Gupta, ela acrescenta que adiar cuidados dessa forma é algo que ninguém faria no caso de uma doença como o câncer, por exemplo.
De acordo com uma pesquisa do Pew Research Center divulgada em maio, 31% dos norte-americanos disseram que se sentiriam apenas um pouco confortáveis em falar com um terapeuta sobre sua saúde mental, enquanto 18% disseram que se sentiriam pouco ou nada confortáveis em fazê-lo.
“Existem tantos equívocos sobre a terapia, e acho que isso muitas vezes impede as pessoas de ir”, disse Gottlieb. “(Um deles) é que você vai entrar, vai desabafar sobre o problema da semana e vai sair, e basicamente você só está reclamando e recebendo validação para suas reclamações.
Ela explica que isso não significa fazer terapia. Ter “insights”, ou seja, percepções importantes sobre a nossa vida e o nosso modo de reagir, é um dos pontos fortes do trabalho terapêutico. Mas nada disso importa se você não fizer as mudanças necessárias para ser mais feliz. Por isso, muitos profissionais dizem que a parte mais importante da terapia é o que acontece entre as sessões, quando você consegue aplicar o que discutiu. Veja, a seguir, cinco principais vantagens do trabalho terapêutico:
Idealmente, o terapeuta é uma pessoa imparcial, que traz algo como uma “segunda opinião” sobre a sua vida. Isso é diferente de receber um conselho ou orientação de um amigo ou familiar, já que para essas pessoas é difícil olhar para os fatos objetivamente. Além disso, quem gosta de você vai fazer o possível para não causar nenhuma mágoa ou mal-estar. Já o terapeuta utiliza um tipo de compaixão diferente – sem agredir, ele ajuda você a perceber o que está fazendo de errado.
Na terapia, você pode explorar qualquer tipo de assunto. E pode falar daquilo que realmente importa para você, e sobre as suas necessidades, sem medo de ser julgado. Por exemplo, se você reclamar de algo em sua vida, não vai ouvir coisas do tipo “mas você não tem direito de reclamar, você já tem muita coisa”.
A loucura do dia a dia, com trabalho, estudo e uso da tecnologia, tem sido responsabilizados por uma epidemia de solidão, algo que ficou muito claro durante a pandemia. A terapia pode ser uma ponte para você se abrir a novas pessoas, e não apenas o próprio terapeuta. Ao falar de sua intimidade, você pode perceber o que o impede de ter relações mais significativas. E pode discutir meios de se aproximar das pessoas e criar novas amizades.
A terapia ajuda as pessoas a verem que fazem parte de grupos maiores, e que receberam influências de pais, avós e uma série de pessoas. Isso ajuda a perceber que nossos parentes também são humanos e cometem erros, assim como nós. E isso também faz a gente ver que muitos dos nossos comportamentos e reações têm uma origem, e que esses padrões podem ser modificados.
Nossa vida é uma narrativa, e a terapia pode nos ajudar a entendê-la e a transformá-la. Ao entender por que você reage de determinada maneira e fazer mudanças, você passa a assumir controle sobre a sua vida. E deixa de culpar os outros pela sua infelicidade. Afinal, todos nós podemos mudar o nosso destino.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin