Os abortos são momentos muito tristes e delicados na vida de uma mulher. Além dos riscos para a saúde física, são grandes causas de frustrações e problemas emocionais.
Infelizmente, os abortos são muito comuns, mais do que se imagina. Estima-se que de 15 a 25% de todas as gestações possam terminar em abortos. Alguns são muito precoces, com poucos dias de atraso menstrual, e a mulher talvez nem soubesse que estava grávida.
A maioria dos abortos acontece por causas genéticas e são bem no início da gravidez. Mas temos outras causas, que são múltiplas, desde malformações do útero, passando por problemas de coagulação, de imunidade, hormonais, chegando a outras possibilidades, como infecções.
Quando o aborto não acontece por completo e a placenta não é eliminada totalmente, chamamos de aborto retido. Esse material retido no útero pode ser muito perigoso e causar infecções, calcificações, tromboses, sangramentos intensos e, em casos extremos, pode ser letal.
Assim, se o material não for eliminado totalmente do útero, pode ser necessário um procedimento médico, a curetagem. Ela é realizada em ambiente hospitalar, com anestesia, e visa remover os tecidos da gravidez que ainda não se descolaram do útero.
Dependendo do tempo que o aborto aconteceu, da quantidade de material retido e de outras situações clínicas da paciente, a curetagem pode ter riscos de perfurações do útero ou mesmo de grudar suas paredes internamente, o que chamamos de sinéquias.
Essas complicações de um aborto podem mesmo fazer a mulher perder o útero ou ter dificuldades para engravidar depois.
No entanto, não há motivos para pânico. Descobertos bem no início e acompanhados por um médico, os abortos resolvem-se em segurança e sem deixar sequelas.
Se a mulher tem mais de dois abortos consecutivos, chamamos de abortos de repetição, ela deverá procurar um médico especialista para descobrir a causa e prevenir novas ocorrências.
Ainda existe uma hipótese, não comprovada, de que em cada gravidez – mesmo que termine em aborto – o organismo materno passa a “reconhecer” o material genético paterno presente no embrião. Um mecanismo similar à memória imunológica. Assim, com o tempo, uma nova gestação não será entendida mais como “corpo estranho” e poderá se desenvolver sem terminar em aborto.
A mensagem final é que embora muito comuns, os abortos devem sempre ser tratados com atenção. E em caso de repetição, um tratamento específico deve ser procurado.
Dr. Fernando Prado
Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres - Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, é membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Instagram: @neovita.br
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