Empresa gera polêmica com produto experimental que não protege contra gravidez ou DSTs, mas pode dar falsa ideia de segurança
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h48 - Atualizado às 23h53
Um adesivo para tampar a cabeça do pênis está à venda na internet. Isso mesmo. Uma empresa de Las Vegas, nos Estados Unidos, lançou, em “versão beta”, um produto chamado Jiftip, que nada mais é do que isto – uma espécie de “mini post it” para ser colado na saída da uretra, o que supostamente impediria o vazamento de esperma ou líquido pré-ejaculatório durante o sexo. O objetivo, segundo o site, não é evitar uma gravidez ou DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), mas o projeto traz uma forte mensagem de desprezo à camisinha, o que é preocupante.
Se a ideia não é substituir o preservativo, então qual a vantagem de usar um produto como esse? “Use apenas por prazer, conveniência, novidade ou diversão. NÃO USARÁS ISSO PARA EVITAR A GRAVIDEZ OU PARA A PREVENÇÃO DE DST”, diz o site, assim mesmo, com esse tom irônico. Cada embalagem com três adesivos custa 6 dólares (ou quase 20 reais). Não gostou? É só pedir reembolso. E não precisa devolver, é claro.
Importante esclarecer (pois é preciso navegar um pouco no site para achar esta informação) que é necessário tirar o adesivo antes de ejacular. Como mencionaram alguns especialistas procurados pela imprensa internacional, que deu destaque à novidade nos últimos dias, bloquear a saída do esperma pode ser algo doloroso, e até causar alguma lesão interna, se é que a cola do produto funciona mesmo. E descolar o adesivo do pênis não dói? Provavelmente sim, é pode até causar irritações.
Qualquer pessoa tem o direito de gastar seu dinheiro com o que quiser. O problema são as diversas mensagens que os desenvolvedores do projeto espalham na internet. Para começar, o slogan é ambíguo: “Sinta seu parceiro. Sinta a liberdade. Sinta-se seguro”. Um usuário mal-avisado que queira participar do teste pode se dar mal se achar que está protegido de alguma coisa com o produto. Mas o pior são os posts nas redes sociais: “Você odeia camisinha? Seu pai também. Deve ser algo hereditário”, diz um dos posts do Jiftip no Facebook. “No meu tempo, o sexo era melhor sem embalagem. E você quer saber? Ainda é”, comenta outro.
No mundo inteiro, a gravidez indesejada continua a ser um problema sério, bom como as DSTs. Hoje é possível conviver com a Aids, mas o tratamento tem efeitos colaterais, exige disciplina e é para a vida toda. E, cada vez mais, tem surgido casos de micro-organismos resistentes aos medicamentos, como a “supergonorreia”. Espalhar mensagens que desestimulem o uso de camisinha é no mínimo irresponsável. Então se essa moda chegar ao Brasil, você já sabe: não caia nessa. Liberdade e segurança, só mesmo com a boa e velha camisinha.