Redação Publicado em 11/06/2021, às 10h00
Quando falamos sobre adolescência e sexualidade, costumamos já ter algumas ideias pré-concebidas, como, por exemplo, que nesta fase da vida, os jovens querem mesmo é namorar e transar, e que os pais não conseguem conversar com os filhos sobre isso. Certo?
Pois algumas pesquisas vêm derrubando estes clichês mais que consagrados. Abaixo, três exemplos que desmontam estes pensamentos, sempre com muito embasamento. Confira:
Pesquisa realizada no Reino Unido apontou que boa parte dos jovens faz sexo antes do que deveria. Na opinião de 40% das mulheres e 26,5% dos homens entrevistados, a primeira transa ocorreu “na hora errada”. O trabalho, publicado no BMJ Sexual & Reproductive Health, em 2019, contou com quase 3.000 entrevistados de 17 a 24 anos.
As perguntas envolveram questões como: o parceiro estava igualmente interessado em transar na primeira vez? O casal usou algum método para evitar a gravidez? Estava bêbado? A decisão foi influenciada por pressão dos colegas? Informações sobre experiência sexual anterior, educação e a natureza do relacionamento também foram incluídas no questionário.
A análise foi feita por uma equipe da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, que utilizou o conceito de “competência sexual”, baseado em quatro fatores: autonomia, consentimento, uso de contraceptivos e sensação de que era a hora certa, esse último mais subjetivo. Quem teve resposta positiva nos quatro domínios foi considerado “sexualmente competente”.
Mais da metade de todas as entrevistadas (pouco menos de 52%) e mais de quatro entre 10 (ou 43,5%) dos participantes do sexo masculino não cumpriam todos os critérios. Mais preocupante ainda: uma em cada cinco mulheres afirmou que ela e o parceiro não estavam igualmente dispostos a fazer sexo, e que a decisão foi dele. Ou seja: garotos forçam a barra e meninas acabam cedendo sem estar 100% seguras.
Por outro lado, quase nove entre dez jovens afirmaram ter usado um método confiável de contracepção na primeira vez (não necessariamente a camisinha, que também protege contra doenças). Os pesquisadores observaram que a idade costuma ser usada como fator para determinar a prontidão para o sexo, mas o estudo reforçou o já se sabe: a idade não tem muita importância. Alguns adolescentes de 15 anos até foram considerados sexualmente competentes, enquanto alguns com 18 anos não foram, o que confirma que cada um tem o seu tempo.
Infelizmente, também precisamos admitir que os adolescentes costumam sofrer muita pressão por parte de colegas, e até da família, para namorar ou ao menos ficar com alguém. Para aqueles que ainda não querem, aqui vai uma boa notícia: jovens que adiam a vida amorosa não necessariamente têm algum problema para se relacionar, nem estão deprimidos. Na verdade, eles podem até ter alguma vantagem em relação aos colegas namoradores.
De acordo com um estudo realizado por uma equipe da Faculdade de Saúde Pública da Universidade da Geórgia, nos EUA, em 2019, a maioria dos jovens tem algum tipo de experiência sexual ou romântica entre os 15 e 17 anos de idade. No Brasil, por exemplo, o estudo PeNSE 2015, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, mostrou que quase 30% dos alunos do 9º ano do ensino fundamental já tiveram relação sexual alguma vez na vida.
Esses dados podem levar as pessoas acreditarem que ter relacionamentos na adolescência é obrigatório, o que não é verdade. Alguns jovens podem ter outras prioridades nessa fase, e nem por isso devem ser motivo de preocupação. Publicado no The Journal of School Health, o trabalho analisou questionários respondidos por quase 600 adolescentes ao longo de cinco anos, para avaliar desempenho social, acadêmico e verificar possíveis sintomas depressivos, além de contar com as opiniões de professores.
Os resultados mostraram que os estudantes que não namoravam tinham habilidades interpessoais semelhantes ou até melhores que a dos colegas que tinham uma vida romântica mais ativa. Não foi encontrada diferença significativa, entre os grupos, em relação a relacionamento com amigos, em casa e na escola. E os “sem namorados” ainda foram classificados pelos professores como os que tinham mais habilidades sociais e de liderança.
A pesquisa também concluiu que jovens que namoravam pouco ou nunca tinham namorado apresentaram menor probabilidade de sintomas depressivos. Além disso, foram menos propensos a relatar tristeza ou falta de esperança. Os autores esperam que esses resultados ajudem a mudar a noção generalizada de que não namorar na adolescência pode ser um sinal de algum problema ou desajuste. Na verdade, esse aspecto da vida nunca deve ser analisado isoladamente – se o jovem tem amigos, vai bem na escola e com a família e parece estar bem, não há por que se preocupar com a falta de namoro.
E falando em se dar bem com a família, conversar com os filhos sobre sexo é fundamental. Porém, todos sabemos que a maioria dos pais tem dificuldades em iniciar o diálogo, porque muitos jovens ficam constrangidos e tentam mudar de assunto. Porém, os pais deveriam insistir, como aponta uma grande revisão de estudos publicada em 2019. Esses diálogos, por mais difíceis que sejam, aumentam as chances de os adolescentes se cuidarem mais, de acordo com uma equipe da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA.
A análise incluiu 31 estudos, com informações de 12.464 jovens de 9 a 18 anos. Publicados no periódico Jama Pediatrics, os resultados mostraram que intervenções envolvendo pais e filhos levam, sim, a práticas sexuais mais seguras, como maior adesão à camisinha. O estudo apontou que os diálogos surtiram mais efeito em adolescentes com até 14 anos, pois, nessa época, a convivência ainda é maior. Depois de certa idade, eles passam mais tempo com os amigos que com a família.
Ao contrário do que algumas pessoas acreditam, o diálogo franco sobre sexo em casa não leva os adolescentes a ter mais curiosidade e transar antes do que deveriam, segundo os resultados. Por outro lado, também não leva os jovens a atrasar o início da vida sexual, como muitos pais gostariam.
O ideal, mesmo, é que pais e filhos tenham intimidade suficiente para falar do assunto sempre, em qualquer idade ou ocasião, da mesma forma que familiares costumam conversar sobre outros assuntos relacionados à saúde – ao comentar um filme ou notícia, por exemplo. A questão é que essa liberdade não se constrói da noite para o dia. Então, que tal começar agora?
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