Redação Publicado em 03/07/2022, às 09h00
Nesta época em que as temperaturas baixam ao anoitecer, muita gente aproveita a desculpa para justificar o consumo de bebidas alcoólicas: "ah, ajuda a esquentar". Mas será que isso é verdade? Nada disso, é um mito.
Ao consumir álcool, a pessoa sente que o corpo fica mais quente, porque há um processo de vasodilatação e o calor é levado à pele e às extremidades. Mas isso só dura algum tempo. E, dependendo da pessoa e do país onde ela está, isso pode ser até perigoso. Como explica o site do Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool), quem bebe tende a tirar o casaco por causa dessa sensação momentânea, e, assim, acaba se expondo ao frio.
Além disso, usar o álcool para se aquecer não é uma ideia saudável, uma vez que a substância tem consequências para a saúde, ainda mais em doses elevadas. Veja os motivos apontados por diferentes especialistas para ter em mente que bebida alcoólica é algo para ser consumido com muita parcimônia.
O fígado é o responsável por digerir as bebidas alcóolicas, mas também pelo metabolismo de gordura. “O fígado trabalha diariamente quebrando as gorduras da sua alimentação e eliminando as toxinas. Quando você bebe álcool, acaba adicionando mais uma tarefa na função do órgão. Dessa forma, seu fígado não consegue processar a gordura de maneira tão rápida e eficientemente, pois estará, também, trabalhando para expelir o álcool. Como consequência, ocorre a desaceleração do metabolismo, levando, inclusive, ao acúmulo de gordura”, explica a nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). Para aliviar essa sobrecarga, procure ter uma alimentação leve, com muita salada e frutas, depois de consumir álcool.
A perda de água estimulada pelo consumo de álcool também afeta a saúde da pele. “No caso das bebidas, elas são um dos piores e mais agressivos compostos para destruir a pele. O álcool em excesso pode causar não só a desidratação, mas também a inflamação sistêmica, que colabora para a vermelhidão e envelhecimento da pele. O primeiro efeito é a desidratação, uma vez que, na verdade, o álcool retira todo o fluido da pele. Se você olhar para uma mulher que está bebendo há 20 ou 30 anos e uma mulher da mesma idade que não tem esse hábito, veremos uma enorme diferença na pele. Esse tipo de desidratação causa mais rugas, o que pode fazer você parecer até 10 anos mais velho. O álcool também inflama a pele e está ligado à piora de condições como dermatites, rosácea e acne. O ideal é não beber ou não tornar isso um hábito”, explica a dermatologista Mônica Aribi, sócia efetiva da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
As bebidas alcoólicas, se consumidas com frequência e em quantidade excessiva, também podem impactar na saúde dos cabelos. "Em curto prazo, o álcool prejudica a hidratação de todo o organismo, inclusive dos cabelos, que se tornam mais ressecados, frágeis e quebradiços. Já a longo prazo, as bebidas alcóolicas podem prejudicar o aporte de nutrientes para os fios e aumentar a inflamação do couro cabeludo, favorecendo, consequentemente, a queda de cabelo, além de contribuir para piora da dermatite seborreica, por exemplo”, diz a a dermatologista Jaqueline Zmijevski, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e Fellow em Tricologia pela Associação Médica Brasileira (AMB).
Mesmo o consumo moderado de álcool pode trazer prejuízos à fertilidade. Segundo o ginecologista obstetra Fernando Prado, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Neo Vita, um estudo do ano passado mostrou que as mulheres que desejam engravidar devem evitar o consumo excessivo. “Na segunda metade do ciclo menstrual, mesmo o consumo moderado de álcool está relacionado a chances reduzidas de gravidez, segundo o trabalho”, explica o especialista. Os possíveis mecanismos biológicos que explicam a relação é que o álcool afeta os processos envolvidos na ovulação, além de interferir na capacidade de um óvulo fertilizado se implantar no útero.
O álcool em grandes quantidades e os produtos de sua metabolização (como acetaldeído, NADH e radicais livres) podem causar alterações na função renal, segundo a médica nefrologista Caroline Reigada, especialista em medicina intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. “Eles fazem com que os rins se tornem menos capazes de filtrar o sangue, além de afetar sua capacidade de manter a quantidade certa de água no corpo. Estudos de base populacional sugerem que o consumo de álcool acima dos limites de moderação pode aumentar o risco de doença renal crônica (DRC) na população em geral. Estudos recentes também mostraram um aumento de cálculos renais em mulheres, o qual está associado ao tabagismo e à ingestão de álcool pelas pessoas do sexo feminino, o que não ocorria nas décadas anteriores”, explica a médica nefrologista. Ela acrescenta que o álcool também gera sobrecarga ao rim. "O etanol atrapalha a função do hormônio diurético, que garante que o corpo não perca muita água, fazendo com que o rim deixe de concentrar a urina, perdendo mais água que o habitual. Como a bebida leva o corpo a fazer um esforço muito grande para colocar a substância para fora, é preciso diluir em água e eliminar na forma de urina, causando a desidratação. Além disso, se o fígado for comprometido, pode haver o acometimento renal, chamada síndrome hepatorrenal”, destaca.
Por favorecer a desidratação, o álcool, além de aumentar a incidência de câimbras e dores musculares, também pode fazer com que o organismo retenha mais líquidos. “Como resultado, ficamos mais inchados e a pressão sobre as veias e artérias aumenta, o que pode contribuir para o surgimento de problemas vasculares como varizes e trombose”, destaca a cirurgiã vascular Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.
Outra parte do corpo bastante afetada pela perda de água é a boca e os dentes. “O processo de desidratação causado pelo álcool provoca a diminuição na produção de saliva. Como resultado, ficamos mais suscetíveis ao desenvolvimento de doenças como cáries, gengivites e erosão dental, visto que uma das principais funções da saliva é justamente proteger os dentes e as mucosas orais”, diz o cirurgião-dentista Hugo Lewgoy, doutor em odontologia pela USP.
Vale destacar que o consumo de álcool também é prejudicial para pessoas que acabaram de passar por procedimentos que demandam tempo de recuperação, como as cirurgias invasivas. “Isso porque o processo inflamatório provocado pelo álcool dificulta o processo de cicatrização e favorece o surgimento de cicatrizes inestéticas. Além disso, a substância afina o sangue, aumentando o risco de o paciente sofrer com sangramento e prolongando a tempo de recuperação”, explica a cirurgiã plástica Beatriz Lassance, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
A dica, portanto, é apostar na moderação e não tornar o ato esporádico de beber em um hábito rotineiro.
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