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Anitta revela ter endometriose; conheça 3 mitos sobre a doença

Uma a cada 10 mulheres entre 25 a 35 anos no Brasil sofre de endometriose - Reprodução / Instagram
Uma a cada 10 mulheres entre 25 a 35 anos no Brasil sofre de endometriose - Reprodução / Instagram

Redação Publicado em 08/07/2022, às 15h00

Nesta quinta-feira (07), Anitta usou as suas redes sociais para compartilhar que foi diagnosticada com endometriose. A cantora fez um longo desabafo sobre o assunto e contou que há quase uma década convive com fortes dores que surgem horas depois do ato sexual. 

Segundo ela, durante todos esses anos, ela sofreu com cistite de repetição – ou, infecção urinária –, e muitos acreditavam que era por falta de higiene, de uso de preservativo ou de hidratação. Mas, na verdade, esse era apenas um dos sintomas da doença. Confira o desabafo completo a seguir:

O que é endometriose?

Nos últimos anos, a endometriose vem sendo caracterizada como “a doença da mulher moderna”. A condição é provocada pela implantação do endométrio – ou seja, o tecido que reveste o útero – fora da cavidade uterina. Com isso, ele pode aparecer e permanecer nas trompas, em cima do ovário, na cavidade abdominal e, até mesmo, em outras partes do corpo, o que provoca muita dor.

Na maioria das vezes, a endometriose é uma das principais causas de dor pélvica na mulher e uma das principais – senão a principal – razão para a infertilidade feminina. Segundo dados do Ministério da Saúde, uma a cada 10 mulheres entre 25 a 35 anos no Brasil sofre de endometriose, uma doença que pode afetar a qualidade de vida da mulher. 

Os principais sintomas

Entre os principais sintomas da endometriose estão as cólicas fortes, que podem impedir a mulher de praticar atividades comuns, como trabalho e exercícios físicos, e as dores abdominais frequentes, que também podem ocorrer fora do período menstrual.

Esses sinais podem ser, muitas vezes, mascarados pelo uso contínuo de anticoncepcionais, o que acaba resultando em um diagnóstico tardio.

Além desses, também são comuns:

  • Sangramento menstrual desregulado e intenso;
  • Fadiga e cansaço;
  • Sangramento intestinal durante o período menstrual;
  • Dores fortes durante relações sexuais;
  • Dificuldade de engravidar.

Confira:

Como a doença é descoberta? 

De acordo com Thiers Soares, especialista em cirurgia por vídeo e robótica, muitos casos demoram anos para serem diagnosticados. O atraso médio mundial é de oito anos entre as primeiras queixas e o diagnóstico definitivo. 

A identificação acontece, muitas vezes, a partir de exames de imagem, como a ultrassonografia transvaginal e a ressonância magnética da pelve.

A demora em diagnosticar os focos da doença pode levar ao estado mais grave do quadro, quando é necessário partir para uma intervenção cirúrgica”, explica o médico.

Mesmo assim, é importante lembrar que a endometriose não tem cura. Ela é uma condição crônica, que deve ter acompanhamento constante. Famosas, como a apresentadora Tatá Werneck, a cantora Wanessa Camargo e a atriz Malu Mader também já relataram sofrer com a condição e recorreram à cirurgia para aliviar as dores.

Muitas mulheres manifestam medo de não conseguirem engravidar devido à endometriose, mas Thiers afirma que com o tratamento adequado para cada caso é totalmente possível que a paciente tenha uma vida reprodutiva normal.

Quando é necessário cirurgia?

Primeiramente, é importante realizar um acompanhamento com o ginecologista para entender o grau da condição e como prosseguir com o tratamento. Muitas vezes, o uso do anticoncepcional para suspender a menstruação é adotado para reduzir as dores.

Mesmo assim, quando forem necessárias intervenções cirúrgicas, como no caso de Anitta, a ciência já avançou bastante para garantir procedimentos mais simples, que causem menos impacto na rotina. Em alguns casos, recomenda-se a videolaparoscopia, cirurgia para a retirada dos focos de endometriose espalhados pelos órgãos.

Essas técnicas têm um pós-operatório muito mais seguro, com menos tempo de internação, menos chance de infecção e trombose, retorno mais precoce às atividades diárias e ao trabalho, entre outras vantagens.

Estudo feito por médicos franceses do CHU (Centre Hospitalier Universitaire) Clemont Ferrand, em 2018, mostrou que a cirurgia de endometriose reduz não só a dor pélvica, como aquela sentida durante a relação sexual, além de melhorar a qualidade de vida das pacientes. Os pesquisadores avaliaram a dor sentida antes e depois da cirurgia laparoscópica. Além disso, analisaram as respostas que as pacientes deram em um questionário sobre qualidade de vida e os resultados foram animadores.

Segundo Arnaldo Cambiaghi,  especialista em ginecologia e obstetrícia, com certificado de atuação na área de reprodução assistida, e responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO, a cirurgia exige do médico consultante um conhecimento abrangente do problema, pois pode atingir vários órgãos. Conhecida por alguns como "doença sem cura", pois mesmo tratada pode reaparecer, a endometriose tem esta fama por receber de alguns profissionais um acompanhamento inadequado e insuficiente, principalmente nos casos de endometriose ovariana e endometriose infiltrativa profunda.

Nesses casos é fundamental o acompanhamento de profissionais especializados em infertilidade e que tenham experiência em cirurgia pélvica para uma resolução satisfatória”, frisa o especialista. 

Mitos sobre a endometriose

Mesmo sendo algo tão sério, a endometriose ainda é uma condição pouco debatida e cercada de mitos. Por isso, reunimos aqui três deles para esclarecer algumas dúvidas:

1. Os sintomas parecem os de uma menstruação intensa

Mulheres com endometriose às vezes presumem que seus sintomas são uma parte normal da menstruação e, quando procuram ajuda, às vezes são ignoradas como uma reação exagerada aos sintomas menstruais normais. Mas, na verdade, algo muito mais sério está acontecendo do que cólicas menstruais. Uma teoria para isso é que a dor ocorre porque mesmo quando o tecido semelhante ao endométrio está fora do útero, ele continua respondendo aos sinais hormonais e produzindo substâncias químicas que causam inflamação e dor.

Durante o curso do ciclo menstrual, esse tecido semelhante ao endométrio fica mais espesso e, eventualmente, sangra. Mas, ao contrário do tecido endometrial no útero, que é capaz de ser drenado pela vagina a cada mês, o sangue do tecido deslocado não tem para onde ir. Em vez disso, ele se acumula próximo aos órgãos e tecidos afetados, irritando-os e inflamando-os. O resultado é dor e, às vezes, o desenvolvimento de tecido cicatricial, que pode formar uma teia, fundindo os órgãos. Isso pode causar dor durante o movimento ou atividade sexual.

2. A endometriose afeta apenas a região pélvica

O local mais comum para a ocorrência de crescimentos de endometriose é, de fato, a pelve, mas ela também pode ocorrer na superfície externa do útero, na bexiga, nas tubas uterinas e em qualquer outra parte do corpo. Já houve casos documentados de tecido semelhante ao endométrio encontrado nos pulmões, por exemplo.

3. A endometriose é sempre dolorosa

Nem todas as pessoas com endometriose sentem dor. Não é incomum que uma mulher descubra que tem endometriose somente depois de começar a investigar por que está tendo dificuldade para engravidar. A endometriose é a principal causa de infertilidade nos Estados Unidos, por exemplo, e ter a doença também aumenta a probabilidade de aborto espontâneo e outros problemas na gravidez. No entanto, a boa notícia é que a grande maioria das mulheres com endometriose consegue ter um filho.

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