Redação Publicado em 18/03/2022, às 17h00
Ter filhos depois dos 30 ou até dos 40 anos de idade tem sido a opção de muitos casais. Embora para muitos essa seja a melhor fase para formar uma família, por uma série de questões, adiar a gravidez pode trazer desafios. Nessa idade, os óvulos já acumulam danos ao DNA, o que pode comprometer o sucesso inclusive da fertilização in vitro.
Métodos para proteger os óvulos do envelhecimento têm sido alvo de muitos estudos, como o de uma equipe da Universidade Hebraica de Jerusalém coordenada pelo biólogo molecular Michael Klustein. Em um trabalho publicado no mês passado no periódico Aging Cell, ele sugere que, em pouco tempo, isso será possível.
O pesquisador e sua equipe identificaram um dos processos de envelhecimento que atrapalham a maturação bem-sucedida de um óvulo – a perda dos mecanismos de regulação que impedem partes prejudiciais do DNA de se tornarem ativas.
Quer dizer que nosso DNA contêm seções que podem fazer mal às próprias células? Isso mesmo, e essas sequências são semelhantes a vírus ou fragmentos de vírus, de acordo com o texto de divulgação da Universidade Hebraica de Jerusalém. Essa ideia foi estudada extensivamente pela pesquisadora Barbara McClintock, que chegou a receber o Prêmio Nobel de 1983 por suas descobertas.
O envelhecimento causa uma espécie de falha no sistema responsável por manter esses elementos prejudiciais quietos no seu canto, ou seja, inativos. Para fazer essa simulação no laboratório, a equipe de Klustein utilizou substâncias que imitam esse processo de liberar os vírus que danificam o DNA.
Depois disso, os cientistas testaram maneiras de reverter os danos: uma delas foi usar manipulação genética e a outra, medicamentos antivirais. Entre as drogas testadas estava a zidovudina, ou AZT, indicada para o tratamento do HIV. A equipe conseguiu resultados positivos ao aplicar doses baixas do antiviral em óvulos de camundongos.
“Nesse processo, houve um resgate parcial dos gametas envelhecidos e o índice de maturação foi elevado em até 28,6%”, comenta o ginecologista e obstetra Fernando Prado, especialista brasileiro em reprodução humana que não participou do estudo. “Esse é um importante achado; foi a primeira vez que se conseguiu reverter o processo de envelhecimento dos óvulos”, comemora.
A descoberta ainda é preliminar, e são necessários muitos estudos, ainda, em óvulos humanos. Prado observa que os gametas que tiveram seus danos revertidos com o medicamento não foram fecundados, portanto há dúvidas sobre o sucesso final da tentativa. De qualquer forma, Klustein acredita que a descoberta possa ser útil, no futuro, para mulheres mais velhas que utilizam antivirais e que desejam engravidar.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de nascimentos que envolvem mães com menos de 30 anos teve redução entre 2008 e 2018, ao mesmo tempo em que cresceu o número de mulheres que tiveram o primeiro filho depois dessa idade.
Para Fernando Prado, é possível que esse tipo de procedimento, além de aumentar as chances de gravidez, seja capaz de reduzir os riscos de síndromes genéticas, que são mais altos para mulheres com mais de 35 anos.